Quase sempre a criança depois
do divórcio dos pais está sujeita a sentimentos desesperados de solidão e isolamento, e com frequência experimenta uma ansiedade
muito forte. Na maioria das vezes, ela é incapaz de expressar seus sentimentos em palavras, e só pode
fazê-lo indiretamente através de brincadeiras, fantasias ou até mesmo ao ouvir
histórias.
As histórias infantis ajudam
a criança a lidar com sentimentos como: inveja ou rivalidade com irmãos, medo
da separação dos pais, inferioridade, raiva, vingança, tristeza, desprezo,
abandono, etc., por isso geralmente quando se identifica com os personagens
pede para lerem para ela várias vezes a mesma história.
O conto enriquece a vida
interior da criança e a auxilia entender melhor suas emoções. Utilizando os
pensamentos mágicos dos personagens a criança fica aliviada por saber que esses
sentimentos são comuns, afinal, todos sentem raiva e querem destruir a bruxa
malvada, sentem medo do Lobo Mau. Sentem orgulho de um príncipe que salva a
princesa, se admiram com a sabedoria do rei, sentem pena de quem sofre por
conta da maldade da bruxa.
Num atendimento essa semana o
garoto me disse:
- Você pode ler pra mim a história do elefantinho
Dumbo?
Achei o pedido muito significativo
e quero compartilhar minha interpretação.
O menino é filho de pais separados e mora com a mãe. Quando ela ‘permite’
ele vê o pai a cada 15 dias, mas geralmente fica 2 meses sem convivência,
porque sempre a mãe dá ‘um jeitinho’ de não cumprir a decisão judicial que dá
ao filho esse DIREITO.
Vejamos:
Dona Jumbo briga por seu
filhote mesmo que isso venha arruiná-la,
como é o caso na história.
Mesmo contando com o amor e
proteção materna o drama de Dumbo é de separação. Dona Jumbo é encarcerada após
uma crise de fúria e o elefantinho
ficou só, tendo apenas o rato
Timóteo como conselheiro.
“O drama do elefantinho centra-se no fato de
que ele se vê privado dessa proteção, quando sua mãe é encarcerada. Essa história
tem seu fim quando se produz o milagre de fazer um elefante voar.
Longe da proteção materna o
elefante tem novas aventuras numa jornada de crescimento.
A função paterna é feita pelo ratinho Timóteo. Como em todos contos de fadas temos nesse um pai desvalorizado, neste caso minúsculo. A assimetria desse
casal rato-elefante, no exercício
das funções paterna e materna simboliza bem o que sempre sentimos: um pai que aos olhos da mãe está sempre
aquém do necessário. Nas piadas o enorme elefante costuma ter medo de
ratos, mostrando que tamanho não é
documento. Porém não deixa de ser
ilustrativo que a mãe seja tão imensa, enquanto o personagem que poderíamos
associar ao pai é tão pequenino.
O ratinho representa um pai que surge como um conselheiro
oportuno e sábio, mas só depois que o destino tira de cena a dona Jumbo, cujo amor paquidérmico ocupava todos os
espaços.
Timóteo cria um objeto
mágico, uma peninha, que faz com que o elefantinho perca o medo de voar. Convence-o que se estiver segurando-a na
tromba não cairá. Só depois quando Dumbo já estava convencido de seu dom, Timóteo
revela que a história da peninha fora um pequeno truque.
Não pode haver nada mais paterno que esse episódio. Ele é similar ao que ocorre quando as crianças e a
andar de bicicleta: em determinado momento quem está segurando deixa-as soltas e elas saem pedalando
sozinha, confiantes de que estão sendo amparadas.
O trabalho do pai é esse auxilio no crescimento, que passa por deixar voar, mas entregando uma
peninha que represente sua presença, ou, com as mãos soltas acompanha com o
olhar as primeiras pedaladas independentes. Trata-se de um apoio que saiba se
ausentar na hora certa e possa ser substituído pela confiança nos passos do
filho.
O filho que vive só com a mãe
vai ser sentido como se fosse parte da
própria mãe. Ela ficará ao seu lado no infortúnio e ele será sua extensão narcísica. Assumir o formato do ideal materno, no
entanto, é uma proposta regressiva. É uma possibilidade de se entregar
infantilmente à condição de ser objeto da mãe”.
A psicanalise capacita o
homem a aceitar a natureza problemática da vida sem ser derrotado por ela, por
isso indico terapia para todos que estão passando pela situação de separação. Os
Postos de Saúde oferecem esse serviço gratuitamente. Pode demorar um pouquinho,
mas a vaga aparece.
O tratamento é importante
para que o pai ausente fique forte e não
desista de lutar pelo filho. O judiciário além de ser moroso não aplica a
Lei da guarda compartilhada na integra, mas estamos lutando pra que esse quadro
mude.
Mesmo que no momento você esteja
pequeno feito o ratinho Timóteo. Faça
sua parte. Auxilie no crescimento emocional do seu filho, ajude ele a perder os
medos, a ter confiança num futuro melhor. Não
permita que a mãe elefante ocupe todos os espaços, lute pelo seu
e mesmo que ele seja desproporcional em tempo, dê TEMPO DE QUALIDADE para seu filho. Mostre que tamanho não é documento e marque seu espaço no emocional da
criança.
“Provoque” o judiciário toda
vez que se sentir prejudicado. Seu filho
precisa de você para novas aventuras numa jornada de crescimento.
Muito bom o texto! Parabéns!
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