Erroneamente
a consciência coletiva confunde guarda com o Poder Familiar, atribuindo a quem
detêm a guarda o exercício uno do Poder Familiar. Nessa circunstância, o
genitor que não detém a guarda — usualmente o pai — tende a não exercer os
demais atributos do Poder Familiar, distanciando-se de sua prole e privando-a
de importante referencial para a sua formação.
Pais e mães
que convivem com o filho apenas nos finais de semana, geralmente são chamados
de Pais “Mc Donald’s” ou “Sunday dads” — pais de domingo e a principal
consequência do desequilíbrio do tempo de convivência pode ser observada na
TOTAL ausência de desejo dos pais em colocar limites nos filhos com a desculpa:
“eu só o vejo um dia ou dois por semana, ou um por quinzena, não é justo que eu
dê broncas, se eu advertir meu filho ele ficará com raiva de mim.”
Ora, mas se
educar é função dos pais, porque não exercer os atributos do poder parental?
Pai e mãe devem instruir, dirigir, moralizar, aconselhar e aculturar o filho.
Colocar limites, dar broncas, chamar atenção, faz parte da educação e cabe aos
pais, sendo guardiões ou não, educar aqueles a quem deram a vida, dirigi-los,
defendê-los e prepará-los para a vida e para viverem em sociedade.
Vou dar um
exemplo do que aconteceu hoje de manhã quando fui comprar frutas numa quitanda
perto de casa. Um homem estava descarregando um caminhãozinho baú e um garoto
não parava de bater na lataria do caminhão com um pedaço de pau. O pai pegava a
caixa de frutas e levava pra dentro da frutaria enquanto o filho o tempo todo
dava pauladas na lateral do baú. Aquilo de certa forma me impressionou, afinal,
o menino (uns 6 ou 7 anos) estava amassando a lataria do caminhão e ninguém
falava nada.
Minutos
depois ele entrou no estabelecimento e começou a furar as frutas com uma
lasquinha de madeira e uma senhora pediu pra ele parar, porque, ninguém
compraria o que ele estava estragando e que o pai teria prejuízo. Ele saiu de
perto dela e foi perto de outra mulher e ficou atrapalhando ela passando na
frente de modo que a senhora não podia escolher. Ela deu uma bronca: “Oh
menino, pare de me aperrear. Você está me ‘estrovando’, sai pra lá.”
O pai estava
presente, mas não chamava atenção do menino de jeito nenhum. O garoto chegou
perto de mim e me deu uma varadinha de leve, não aguentei e perguntei:
- Quem é o
pai dessa criança?
O homem
atrás do balcão respondeu: - Sou eu.
Perguntei: -
E, por que o senhor não diz que ele não pode fazer essas coisas. É sua função
educa-lo e não nossa.
Antes que
ele respondesse a esposa falou: - Dona, ele não deixa ninguém ralhar com o
menino. Esse aí cresce fazendo o que quer. Eu presto pra fazer a comida, lavar
roupa, passar, dar banho, passear, dar remédio, mas se vou chamar atenção do
menino o pai logo diz que não sou a mãe
do moleque.
O pai a interrompeu
e disse: - Sou separado. Só pego ele cada 15 dias e agora, metade das férias.
Não vou ficar falando ‘não’ pra ele e também não quero que minha mulher fale.
Eu quero ficar junto com menino e se eu ficar dando bronca ele vai falar que
sou chato e não vai mais querer vir.
A esposa
retrucou: “- Pois, é, ele não ralha com o menino e então, vem os outros e ralham. Não é pior, não é mais feio? Olha,
nem de longe quero ser mãe do menino. Nem de tia quero que ele me chame. Ele me
chama pelo nome mesmo. Eu gosto muito dele. Eu só quero o bem pro menino. Amo
meu esposo e quero ter boa convivência com menino, mas olha, está difícil. As
vezes penso até que meu casamento vai desandar por conta disso.
Quando ele
não quer comer na refeições e pede doces o pai dá. Se joga o suco fora e quer
Coca-Cola o pai dá. Se quiser comer somente batata frita, o pai dá e eu já não
acho que deva ser assim. Criança tem que comer coisas saudáveis. Até se faz birra, levanta a mão para bater no pai, arranca os
óculos dele, enfia a mãos no prato e joga comida fora, o pai não fala nada e
ainda briga comigo se eu falar!
Quando
esse menino quer alguma coisa ele não quer saber se podemos comprar, ele se
exige, se joga no chão, faz escândalo e o pai fica assim, oh, com raiva da
gente que tá mandando ele educar. Minha ‘fia’, se o menino não quer sentar na
cadeirinha do carro pelo pai ele pode ir no banco mesmo. E se quer tirar o
cinto, o pai deixa. Enfim, eu fui criada com pai e mãe me educando. São os
adultos que têm que mostrar pra criança como funciona o mundo, por isso, a
criança tem responsáveis, não é?
Eu
tento corrigir, mas o menino domina o pai que aceita tudo inclusive, as
agressões, puxões, respostas mal dadas e birras dele. Bom, a senhora mesmo viu
ele amassando a lataria e furando as frutas. Comigo o buraco é mais embaixo. Eu
brigo. Quando não pode, não pode e pronto e se chamo atenção ele obedece na
hora, mas só se o pai não tiver por perto. Como é que não posso educar e
corrigir um menino que recebo na minha casa? Isso é um gesto de amor. Educo pro
outros não educarem. Ele me ouve, chora um pouco, mas logo obedece e esquece a
bronca. Ele é um menino fácil de lidar, mas o pai está estragando ele.
O
pai a interrompeu e disse: “- Fico muito tempo longe dele e quando ele chega
ainda tenho que “brigar”? Ela me cobra isso e eu não gosto mesmo quando ela
corrige, porque ela não é a mãe. E se meu filho fala que ela brigou sou eu é
quem briga com ela, porque, o filho é meu. Não quero que o menino chegue pra
mãe falando que essa aqui ralhou com ele. Um dia ainda pego esse menino e sumo
no mundo. Vou deixar todo mundo pra trás.”
A
esposa voltou a falar: “- A senhora acredita que tudo que a ex dele faz com
ele, ele faz comigo? Qualquer discussão que temos ou quando ele se sente
contrariado diz que vai pegar o FILHO DELE e ir embora. Em ocasiões que ele
chega em casa e eu não estou, pois sai com menino pra padaria, açougue,
mercado, parquinho, ele me liga e pergunta: ONDE VOCÊ ESTÁ COM O MEU FILHO? Ele
está se tornando igualzinho a ex mulher. Ele já chegou a arrumar a mala dele e
do menino, só pra me fazer raiva. Ele diz que se largar de mim eu NUNCA MAIS
VOU VER O MENINO.”
Ele
disse: “- Não vai mesmo. O filho é meu. Ela e a família dela não têm que sair
com meu filho. Não estou igual minha ex, só não quero meu filho longe de mim,
só isso.”
A
madrasta falou: “- Nem as unhas do menino ele deixa eu cortar, mas também, Não
corta, não manda tomar banho, não leva cortar o cabelo, não manda fazer lição
de casa.”
O exercício
da função paterna pressupõe muito mais que a simples presença masculina na
relação com a criança. Essa função se localiza no espaço de subjetivação do
exercício do poder. O pai precisa se
colocar no lugar daquele que interdita, daquele que coloca limites no filho,
porque essa é uma das funções paternas.
“Os filhos sempre necessitam da presença dos pais. A figura masculina é fundamental como
apoio e segurança, como referencial de valores que sempre cabe ao pai
transmitir. Os jovens procuram
no pai um modelo com o qual possam se identificar. Na ausência do pai, os jovens podem migrar para outros modelos, nem
sempre recomendáveis.
Reconheçamos que o pai é quem tem condições naturais, como referência,
para o discernimento necessário para que
a criança se situe em relação à presença do ser masculino na família. Para
o filho, em particular, o pai deve ser o modelo de masculinidade.” (Leontino Farias dos Santos,
psicanalista. Artigo: A importância do pai para o desenvolvimento infantil,
25/10/13)
Pais precisam exercer autoridade, porque quem manda na relação é o
adulto e não a criança. O pai deve dar limites para criança, deve ensinar a
criança a se comportar. A permissividade
é péssima, porque o filho não consegue internalizar as regras da sociedade em
que vive.
Para Cris Poli
(“Supernanny”), o erro mais recorrente dos pais é não tomar uma postura em
relação à educação dos filhos. “A ausência,
a falta de posicionamento e de autoridade são características de uma carência
muito forte do pai”, diz ela. Por isso, os pais não devem confundir a
“culpa” que sentem com o dever de educar. Se estão carentes, porque não
convivem sempre com filho, deve procurar ajuda terapêutica, mas a aculturação da criança não pode
ser prejudicada por isso. Por exemplo, é inadmissível que um filho bata
no pai, que afunde a lataria do carro, que ande sem cadeirão, que coma
supérfluo nas principais refeições, etc., e é o adulto quem deve ensinar essas
regras, MESMO QUE CONVIVA COM FILHO UMA HORA NO MÊS!
Educar filhos é uma tarefa complexa. Viver em família é uma
das experiências mais prazerosas da existência. Quem almeja ver dias felizes precisa de aprender a educar e não ter
medo de colocar limites.
A madrasta não é mãe biológica, mas exerce funções maternas e
ela não só pode, como deve educar, claro que com amor e autoridade, nunca com
autoritarismo. A casa do pai é a casa da madrasta também, por isso, cabe também
à ela ensinar para criança os limites e regras daquele ambiente e da sociedade.
Se o pai é permissivo, por exemplo, num local público, é sensato que a madrasta
chame atenção da criança para que ela não importune os terceiros com seus maus
modos.
Como diria o psiquiatra Dr. Paulo Gaudêncio “Bom pai é aquele que cada vez mais se torna
desnecessário.”, desnecessário no sentido de já ter instruído, educado e
passado os valores morais, sociais, culturais e educacionais das gerações
passadas e um pai que na infância e adolescência de seu filho não faz isso,
certamente será necessário na vida adulta problemática da prole, que muitas
vezes, pela falta de limites acaba se metendo em confusões de rua, uso de
drogas, pequenos crimes, atos delinquentes, gravidez precoce, etc.
Pelo bem do seu filho ensine o caminho que ele deve
andar, porque não só ele como você, mas toda a família estendida e a sociedade
se beneficiarão do bom comportamento dele.