Eu não costumo relatar nada do que acontece no
espaço clínico quando envolve menores de idade, mas essa semana fiz um
atendimento que me sensibilizou demais e decidi compartilhar no Blog para que
pais e mães que cometem atos de Alienação Parental tenham dimensão do maleficio
que fazem aos filhos ao proibir a criança de ter contato com outro genitor.
Com crianças não dá para fazer entrevistas semi
dirigidas como fazemos com os adultos, por isso, como técnica projetiva, entre
outras, utilizo a família de bonecos. O brincar ativa o emocional, incentiva o
imaginário e facilita a expressão e opinião da criança.
“Os jogos e
brincadeira permitem que a criança libere a tensão, frustração, insegurança e
até mesmo a agressividade, medo e
a confusão, tudo isso sem que a criança se dê conta que tem todos esses
sentimentos guardados. A ludoterapia é uma poderosa terapia para que a criança
aprenda a se expressar”.
Nos atendimentos sempre
disponibilizo várias bonecas e bonecos adultos, bem como bonequinha(o)s pequena(o)s,
dessa forma a criança terá em mãos brinquedos que representam as figuras
femininas e figuras masculinas. As bonecas podem representar a mamãe, vovó,
titia, nova esposa, namorada do papai, professora e bonecos representam papai,
vovô, titio, novo marido ou namorado da mãe, etc.
Assim que abri a caixa de
brinquedos o garotinho retirou as bonecas
e arrancou as cabeças, pernas e
braços e jogou tudo na grama (estávamos num espaço ao ar livre).
Perguntei:
- Por que você destruiu as figuras femininas?
Garoto (8 anos) respondeu:
- Fiz de conta que aqui é um videogame. Mesmo que a menina é INOCENTE, TEM QUE
MATAR. Mesmo que o matador ama ela, tem que matar. Mesmo que ele não
quer, tem que matar.
- Por que ele tem que matá-la?
- Não tem
explicação, tem que matar e pronto. Porque tem que matar, só isso. Não
sei explicar porque.
Depois de uma pausa continuou....
- Nem o
homem sabe explicar. Mandaram ele matar ela e ele matou. Ela era INOCENTE.
Ela não tinha arma, mas o homem tinha faca e metralhadora. Ele AMAVA ELA,
mas teve que matar.
Perguntei:
- Como sabe que ele a amava?
- Sei,
porque quando ele via ela aparecia um coração na cabeça dele.
Está nítido que menino está se projetando na
brincadeira. Está dizendo de si, de como se sente. Ele teve que “matar” a mãe simbolicamente, porque
esta é a mensagem que lhe passam ao afastá-lo da convivência materna. Embora ele não entenda o porquê disso, sabe
que deve “matá-la”.
No fundo ele não compreende a situação e
verbaliza: - Não tem explicação, tem
que matar e pronto. Porque tem que matar, só isso. Não sei explicar
porque.
- Eu sei pra que serve uma psicóloga.
Perguntei:
Respondeu:
- Ensinam
as pessoas a se comportarem melhor e ajudam elas a ser felizes.
- Mas por
quê, então, vocês não fazem nada? Eu já fui em três e vocês não me falam
porquê. Vocês não servem pra nada. O que vocês fazem com os desenhos que
mandam a gente fazer? Vocês, perguntam, perguntam, perguntam e quero saber o
que vocês fazem com essas perguntas. Vocês dão as perguntas pra quem? (na
verdade ele queria saber o que fazemos e a quem damos as respostas).
Pra não dizer que ele era “”objeto”” da disputa
de uma guarda, a única saída que vi foi responder que toda profissão tem um ‘segredo’
e que esse era o meu, mas que quando ele ficasse mocinho era pra ele me
procurar que eu revelaria o segredo à ele e entreguei meu cartão de visitas e
falei: - Guarde num local bem secreto pra você não perder e quando você fizer
18 anos pode me ligar que te conto.
Ele adorou a brincadeira, mas eu estou a mais de
24 horas pensativa com a última frase que ele me disse:
- Vocês não
fazem as pessoas felizes.
Ele me acertou como uma flecha acerta o alvo, mas
eu não vou ser a única ‘culpada’ da infelicidade de famílias, vou arrastar comigo para o compromisso pais
e mães que desejam guardas unilaterais. Vou chamar de culpados a morosidade do judiciário, juízes
com pensamentos arcaicos, advogados que peticionam sem levar em conta a
alienação parental e a vigência da Lei 13.058, que diz que no Brasil ela é REGRA e não uma exceção.
Uma criança tem que conviver com ambos genitores em tempo equilibrado.
Vou parafrasear o pequeno garoto e perguntar a todos envolvidos:
Até quando nós vamos permitir que uma criança
INOCENTE ‘mate simbolicamente’ seu pai ou sua mãe?
“Mesmo que
a menina é INOCENTE, TEM QUE MATAR. Mesmo que o matador ama ela, tem que
matar. Mesmo que ele não quer, tem que matar.
- Não tem
explicação, tem que matar e pronto. Porque tem que matar, só isso. Não
sei explicar porque.
- Nem o
homem sabe explicar. Mandaram ele matar ela e ele matou. Ela era INOCENTE.
Ela não tinha arma, mas o homem tinha faca e metralhadora. Ele AMAVA ELA,
mas teve que matar”.
Todos nós, profissionais da psicologia, da assistência
social, do direito, pais, mães, avós, nós temos a FACA E A METRALHADORA NAS MÃOS. Nós vamos ensinar a matar ou a compartilhar?
Quem ama
compartilha, não mata! Embora não pareça quem morre é a criança e não o genitor ausente. O
adulto bem ou mal está acostumado às decepções da vida, mas a criança recém chegou
ao mundo. Não a condenemos aos sentimentos de abandono e rejeição antes da
hora. Tudo tem seu tempo.
como dói essa fala da criança, como ele é objeto desse drama. que futuro emocional lhe aguarda.....que pena meu Deus....e o pior é que ninguém pode mesmo fazer nada.....ele está afundando com um dedinho para fora, para que alguém o ajude
ResponderExcluir