sábado, 12 de setembro de 2015

O Pintassilgo e as rãs.

Agora pouco relendo o belíssimo texto: O Pintassilgo e as rãs, cujo autor foi meu Mestre, o admirado: Rubem Alves, não pude deixar de fazer uma analogia com a Alienação Parental.

É sabido que na grande maioria dos casos o alienador foi um alienado. Quando investigamos as histórias reparamos que elas se repetem sem ao menos que a pessoa se perceba disso. Filhos que não conviveram com seus pais tendem a repetir esse comportamento mesmo que de forma inconsciente e logo após a separação colocam empecilhos, dificultam ou até mesmo impedem de forma total qualquer contato entre genitor ausente e filho.

Como a lei do divórcio é recente (1977), temos pelo menos duas gerações de alienadores. Quem se separou nessa época e alienou o filho “ensinou” que “é possível” ser criado por apenas um dos genitores. Hoje esse filho que cresceu alijado de pai ou mãe quando se separa acredita que também pode criar a criança sem que esta conviva com o genitor ausente. Podemos até ter uma terceira geração de alienador na mesma casa, embora isso não seja comum, pois essa bisavó da criança teria que ter sido mãe solteira na década de sessenta ou ter ousado se separar o que não era nada bem visto naquela época.

Geralmente se as alienadoras são mulheres, moram juntas. Parece que o pacto de lealdade se mantem inclusive na vida adulta, ou isto se dê também pelo fato de que as mulheres precisam trabalhar e necessitam de ajuda de alguém para olhar as crianças, então, podemos encontrar bisavó, avó, mãe e criança morando juntas.

Já sabemos que o comportamento é aprendido. Ele nos é ensinado desde nosso nascimento e é dado pela família, pela escola, pelos contatos com outras pessoas e, pelos órgãos de comunicação, sendo que na primeira infância o que mais temos interesse em aprender são os comportamentos que nossa família nos ensinam, pois, queremos fazer parte e ser aceitos nesse grupo, por isso, despertamos interesse em aprender.

Infelizmente, este comportamento não leva em consideração nosso raciocínio, muito pelo contrário ajuda a atrofiar esta capacidade. Imaginem uma criança ou adolescente que viva na casa com 3 gerações de alienadores. Em primeiro lugar ela não tem capacidade de discernir realidades e fantasias, não tem poder de reflexão e muito menos tem estrutura emocional ou psíquica para questionar o que lhe dizem como verdade e em segundo, e mais grave é que ela irá COPIAR o que os outros fazem, irá IMITAR os comportamentos que está aprendendo e isso IMPEDE o desenvolvimento pessoal pois fica com pensamento infinitamente LIMITADO por causa da ‘lavagem cerebral’ a que é submetido diariamente por longos anos.

Claro que existem alienadores que não foram alienados, mas que por características internas ‘se tornaram’ e com isso iniciarão uma nova geração de alienadores, pois seus filhos vão acreditar piamente que foram abandonados, que o genitor guardião os criou heroicamente sozinhos e para mostrarem que também são “capazes” de serem super-mães ou super-pais, num futuro próximo infelizmente repetirão o que aprenderam.

Não vou me estender à explicação, vou deixar os leitores apreciarem o belo texto que segue abaixo.

“Num lugar muito longe daqui, havia um poço fundo, abandonado e escuro que alguém cavara, muitos e muitos anos atrás, não se sabe bem para que. Lá dentro se alojou um bando de rãs. As primeiras a entrar pensaram que aquele era um local bom de se viver, protegido, úmido, gostoso. 
De um pulo caíam lá dentro. Só que não perceberam que pular no buraco é fácil. O difícil é pular para fora dele. O poço era fundo demais e elas nunca mais puderam sair. Ficaram vivendo lá dentro. Casaram-se; tiveram filhos, multiplicaram-se. As mais velhas ainda se lembravam da beleza do mundo de fora e morriam de saudades. Contavam estórias para seus filhos e netos.

- Quando eu era jovem, e ainda não tinha caído neste buraco... Era assim que sempre começavam. A princípio, a meninada parava para ouvir e gostava. "Estórias da carochinha", eles diziam. O fato é que nunca haviam estado do lado de fora, e pensavam que as tais estórias não passavam de invenções de seus avós já caducos. O tempo passou, os velhos morreram, e até mesmo essas estórias foram esquecidas. As novas gerações foram educadas segundo novos princípios pedagógicos, currículos adequados à realidade, o que importa é passar no vestibular, e acabaram por acreditar que o seu buraco era tudo o que existe no universo. Isto era cientifico, resultado da rigorosa análise material do seu mundo. O real era um cilindro oco e profundo, onde a água, a terra e o ar se combinavam para formar tudo o que existia. As rãzinhas aprendiam que o seu era o melhor dos mundos e, na escola, aprendiam a recitar:

"Rãzinha, não verás buraco algum como este, ama, com orgulho, o buraco em que nasceste..."

A vida, lá dentro, era como a vida em todo lugar. Havia as rãs fortes e truculentas. Elas mandavam nas outras que eram fracas e tinham de obedecer e trabalhar dobrado. Os insetos mais gostosos iam sempre para as mais fortes. As rãs oprimidas achavam, com toda a razão, que isto era uma injustiça. E, por isso mesmo, preparavam-se para uma grande revolução que poria fim a esse estado de coisas. Quando a classe dominante fosse derrubada, a vida no fundo do poço ficaria democrática e os insetos seriam distribuídos com justiça...

Se o buraco não era tão bom quanto cantava a poesia (assim diziam os ideólogos da revolução), era porque ele estava dominado pelas rãs fortes...

Aconteceu, entretanto, que um pintassilgo que voava por ali viu a boca do poço. Ficou curioso e resolveu investigar. Baixou o vôo e entrou nas profundezas. Qual não foi a sua surpresa ao descobrir as rãs! Mas mais perplexas ficaram elas ante a presença daquela estranha criatura. A simples presença do pintassilgo punha em questão todas as teorias sobre o mundo, pois que dele não havia registro algum em seus arquivos históricos. O pintassilgo morreu de dó ao ver as pobres rãs, prisioneiras daquele buraco fétido e escuro, sem nada saber do lindo mundo que havia fora do poço. Como é que elas podiam viver ali dentro, sem nunca pensar em sair? Claro que para se planejar sair é preciso acreditar que existe um "lá fora". Mas as rãs sabiam que um "lá fora" não existia, pois os limites do seu buraco eram os limites do universo.

O pintassilgo resolveu contar-lhes como era o mundo de fora. E se pôs a cantar furiosamente. 

Queria ajudar as pobres rãs...

Trinou flores, campos verdes, riachos cristalinos, lagoas, insetos de todos os tipos, sapos de outras raças e outros coaxares, bichos os mais variados, o sol, a lua, as estrelas, as nuvens. As rãs ficaram em polvorosa e logo se dividiram. Algumas acreditaram e começaram a imaginar como seria lá fora. Ficaram mais alegres e até mesmo mais bonitas. Coaxaram canções novas. E começaram a fazer planos para a fuga do poço. Desinteressaram-se das esperanças políticas antigas.

- Não, não queremos democratizar o fundo do poço. Queremos é sair dele... Preferimos ser gente simples lá fora, onde tudo é bonito, a ser elite dominando aqui dentro, onde tudo é escuro e fedido...
As outras fecharam a cara e coaxaram mais grosso ainda. Não acreditaram...

O pintassilgo resolveu, então, trazer provas do que dizia. Chamou abelhas, com mel. Convidou borboletas coloridas. Trouxe flores perfumadas...

Mas tudo foi inútil para os que não queriam acreditar.

- Este bicho é um grande enganador, eles diziam. Sabemos que estas coisas não existem. Aprendemos em nossas escolas...O rei reuniu seus generais e ponderou que as ideias do pintassilgo eram politicamente perigosas. As rãs estavam perdendo o interesse pelo trabalho. Produziam menos. Com isto havia menos recursos para as despesas do Estado, especialmente uma ferrovia que se pretendia construir, ligando um lado do poço ao outro. Trabalhavam menos, coaxavam mais. Claro que as palavras do pintassilgo só podiam ser mentiras deslavadas, intrigas de oposição...

Os revolucionários, igualmente, puseram o pintassilgo de quarentena, pois o seu canto enfraquecia politicamente as rãs dominadas, que agora estavam mais interessadas em sair que em revolucionar o poço.

As rãs intelectuais, por sua vez, se puseram a fazer a análise filosófica, ideológica e psicanalítica da fala do pintassilgo. O seu relatório foi longo. Nele concluíram que de um ponto de vista filosófico, faltava rigor ao discurso do pássaro, pois ele mais se aproximava da poesia que da ciência, de um ponto de vista ideológico, tratava-se de um discurso alienado, no qual não se fazia nem mesmo uma análise crítica das condições objetivas da sociedade ranal; de um ponto de vista psicanalítico, era óbvio que o pintassilgo sofria de perigosas alucinações que, dado o seu conteúdo, poderiam se transformar num fenômeno de massas.

Observaram, finalmente, que dadas as evidências, o pintassilgo se constituía num grave perigo tanto para a cultura como para as instituições do mundo das rãs. E com isto pediam das pessoas de boa vontade e responsabilidade as providências devidas para erradicar o mal.

O manifesto das rãs foi acolhido unanimemente tanto pelos líderes da direita como pelos líderes da esquerda pois, para além de suas discordâncias conjunturais, estava seu compromisso comum com o bem-estar e a tranquilidade da família ranal. Por ocasião da próxima visita do pintassilgo, ele foi preso, acusado de enganador do povo, morto, empalhado e exposto no Museu de História. Quanto às rãs, foram para sempre proibidas de coaxar as canções que o pintassilgo lhes ensinara. Um aluninho-rã, que visitava o museu, perguntou à sua professora:

- Que é aquilo, professora?
- É um pintassilgo, ela respondeu.
- E que coisas estranhas são aquelas nas suas costas? ele perguntou.
- São asas...
- E para que servem? Ele insistiu.
- Para voar...
-E nós voamos?
-Não, respondeu a professora. Nós não voamos. Nós pulamos...

E não seria melhor voar?

A professora compreendeu então, com um discreto sorriso, que um pintassilgo, mesmo empalhado, nunca seria esquecido.

A alienação parental é um poço fundo, abandonado e escuro que alguém cavara, muitos e muitos anos atrás, não se sabe bem para que.

 Pular no buraco é fácil. O difícil é pular para fora dele. O poço era fundo demais e elas nunca mais puderam sair. Ficaram vivendo lá dentro. Casaram-se; tiveram filhos, multiplicaram-se e as rãzinhas (os filhos alienados) aprendiam que o seu era o melhor dos mundos.

Havia as rãs fortes e truculentas (alienadores parentais). Elas mandavam nas outras que eram fracas e tinham de obedecer e trabalhar dobrado (para pagarem a pensão alimentícia).

 As rãs oprimidas achavam, com toda a razão, que isto era uma injustiça. E, por isso mesmo, preparavam-se para uma grande revolução que poria fim a esse estado de coisas (pais que exigem nova postura do judiciário, fazem denúncias aos órgãos competentes, etc). Quando a classe dominante fosse derrubada, a vida no fundo do poço ficaria democrática e os insetos seriam distribuídos com justiça...(guarda compartilhada)

Aconteceu, entretanto, que um pintassilgo que voava por ali viu a boca do poço. O pintassilgo morreu de dó ao ver as pobres rãs, prisioneiras daquele buraco fétido e escuro, sem nada saber do lindo mundo que havia fora do poço (Juízes que aplicam na integra a Lei da guarda compartilhada).

O pintassilgo resolveu, então, trazer provas do que dizia. Chamou abelhas, com mel. Convidou borboletas coloridas. Trouxe flores perfumadas...(Interessados na aplicação da guarda compartilhada na integra levaram estudiosos, promotores, advogados, juízes, desembargadores, psicólogos, assistentes sociais, sociólogos para Congressos)

Mas tudo foi inútil para os que não queriam acreditar.

Quanto às rãs (filhos alijados de um dos genitores), foram para sempre proibidas de coaxar.
Pais, mães, avós, tios, madrastas, padrastos, profissionais, não vamos deixar os poucos pintassilgos morrerem, vamos nos unir nessa causa. Vinte milhões de crianças estão vivendo no fundo do poço. Vamos revolucionar o buraco e libertar a todos. O mundo aqui fora é muito mais bonito que o mundo escuro da alienação parental.



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