Agora pouco
relendo o belíssimo texto: O Pintassilgo e as rãs, cujo autor foi meu Mestre, o
admirado: Rubem Alves, não pude deixar de fazer uma analogia com a Alienação
Parental.
É sabido que na
grande maioria dos casos o alienador foi um alienado. Quando investigamos as
histórias reparamos que elas se repetem sem ao menos que a pessoa se perceba
disso. Filhos que não conviveram com seus pais tendem a repetir esse comportamento mesmo que de forma inconsciente
e logo após a separação colocam empecilhos, dificultam ou até mesmo impedem de
forma total qualquer contato entre genitor ausente e filho.
Como a lei do
divórcio é recente (1977), temos pelo menos duas gerações de alienadores. Quem
se separou nessa época e alienou o filho “ensinou”
que “é possível” ser criado por apenas um dos genitores. Hoje esse filho que
cresceu alijado de pai ou mãe quando
se separa acredita que também pode
criar a criança sem que esta conviva com o genitor ausente. Podemos até ter uma
terceira geração de alienador na mesma casa, embora isso não seja comum, pois
essa bisavó da criança teria que ter sido mãe solteira na década de sessenta ou
ter ousado se separar o que não era nada bem visto naquela época.
Geralmente se as
alienadoras são mulheres, moram juntas. Parece
que o pacto de lealdade se mantem inclusive na vida adulta, ou isto
se dê também pelo fato de que as mulheres precisam trabalhar e necessitam de
ajuda de alguém para olhar as crianças, então, podemos encontrar bisavó, avó, mãe e criança morando juntas.
Já sabemos que o comportamento é aprendido. Ele
nos é ensinado desde nosso nascimento e é dado pela família, pela escola, pelos contatos com
outras pessoas e, pelos órgãos de comunicação, sendo que na primeira infância o
que mais temos interesse em aprender são os comportamentos que nossa família nos ensinam, pois, queremos fazer parte e ser aceitos nesse grupo, por isso, despertamos
interesse em aprender.
Infelizmente, este comportamento não
leva em consideração nosso raciocínio, muito pelo contrário ajuda a atrofiar
esta capacidade. Imaginem uma
criança ou adolescente que viva na casa com
3 gerações de alienadores. Em primeiro lugar ela não tem capacidade de discernir realidades e fantasias, não tem poder de reflexão e muito menos tem estrutura emocional
ou psíquica para questionar o que lhe dizem como verdade e em segundo, e mais
grave é que ela irá COPIAR o que os
outros fazem, irá IMITAR os comportamentos que está aprendendo e
isso IMPEDE o desenvolvimento
pessoal pois fica com pensamento infinitamente LIMITADO por causa da ‘lavagem
cerebral’ a que é submetido
diariamente por longos anos.
Claro
que existem alienadores que não foram alienados, mas que por características
internas ‘se tornaram’ e com isso iniciarão
uma nova geração de alienadores, pois seus filhos vão acreditar piamente que foram abandonados, que o genitor guardião os criou heroicamente sozinhos e para
mostrarem que também são “capazes” de serem super-mães ou super-pais, num
futuro próximo infelizmente repetirão
o que aprenderam.
Não
vou me estender à explicação, vou deixar os leitores apreciarem o belo texto
que segue abaixo.
“Num lugar muito longe daqui,
havia um poço fundo, abandonado e escuro
que alguém cavara, muitos e muitos anos atrás, não se sabe bem para que. Lá dentro se alojou um bando de rãs. As primeiras a entrar pensaram que aquele
era um local bom de se viver, protegido, úmido, gostoso.
De um pulo caíam
lá dentro. Só que não perceberam que
pular no buraco é fácil. O difícil é pular para fora dele. O poço era fundo
demais e elas nunca mais puderam sair. Ficaram vivendo lá dentro. Casaram-se;
tiveram filhos, multiplicaram-se. As mais velhas ainda se lembravam da
beleza do mundo de fora e morriam de saudades. Contavam estórias para seus
filhos e netos.
- Quando eu era jovem, e ainda não tinha caído neste buraco... Era assim que sempre começavam. A princípio, a meninada parava para ouvir e gostava. "Estórias da carochinha", eles diziam. O fato é que nunca haviam estado do lado de fora, e pensavam que as tais estórias não passavam de invenções de seus avós já caducos. O tempo passou, os velhos morreram, e até mesmo essas estórias foram esquecidas. As novas gerações foram educadas segundo novos princípios pedagógicos, currículos adequados à realidade, o que importa é passar no vestibular, e acabaram por acreditar que o seu buraco era tudo o que existe no universo. Isto era cientifico, resultado da rigorosa análise material do seu mundo. O real era um cilindro oco e profundo, onde a água, a terra e o ar se combinavam para formar tudo o que existia. As rãzinhas aprendiam que o seu era o melhor dos mundos e, na escola, aprendiam a recitar:
"Rãzinha, não verás buraco algum como este, ama, com orgulho, o buraco em que nasceste..."
A vida, lá dentro, era como a vida em todo lugar. Havia as rãs fortes e truculentas. Elas mandavam nas outras que eram fracas e tinham de obedecer e trabalhar dobrado. Os insetos mais gostosos iam sempre para as mais fortes. As rãs oprimidas achavam, com toda a razão, que isto era uma injustiça. E, por isso mesmo, preparavam-se para uma grande revolução que poria fim a esse estado de coisas. Quando a classe dominante fosse derrubada, a vida no fundo do poço ficaria democrática e os insetos seriam distribuídos com justiça...
Se o buraco não era tão bom quanto cantava a poesia (assim diziam os ideólogos da revolução), era porque ele estava dominado pelas rãs fortes...
Aconteceu, entretanto, que um pintassilgo que voava por ali viu a boca do poço. Ficou curioso e resolveu investigar. Baixou o vôo e entrou nas profundezas. Qual não foi a sua surpresa ao descobrir as rãs! Mas mais perplexas ficaram elas ante a presença daquela estranha criatura. A simples presença do pintassilgo punha em questão todas as teorias sobre o mundo, pois que dele não havia registro algum em seus arquivos históricos. O pintassilgo morreu de dó ao ver as pobres rãs, prisioneiras daquele buraco fétido e escuro, sem nada saber do lindo mundo que havia fora do poço. Como é que elas podiam viver ali dentro, sem nunca pensar em sair? Claro que para se planejar sair é preciso acreditar que existe um "lá fora". Mas as rãs sabiam que um "lá fora" não existia, pois os limites do seu buraco eram os limites do universo.
O pintassilgo resolveu contar-lhes como era o mundo de fora. E se pôs a cantar furiosamente.
Queria ajudar as pobres rãs...
Trinou flores, campos verdes, riachos cristalinos, lagoas, insetos de todos os tipos, sapos de outras raças e outros coaxares, bichos os mais variados, o sol, a lua, as estrelas, as nuvens. As rãs ficaram em polvorosa e logo se dividiram. Algumas acreditaram e começaram a imaginar como seria lá fora. Ficaram mais alegres e até mesmo mais bonitas. Coaxaram canções novas. E começaram a fazer planos para a fuga do poço. Desinteressaram-se das esperanças políticas antigas.
- Não, não queremos democratizar o fundo do poço. Queremos é sair dele... Preferimos ser gente simples lá fora, onde tudo é bonito, a ser elite dominando aqui dentro, onde tudo é escuro e fedido...
As outras fecharam a cara e coaxaram mais grosso ainda. Não acreditaram...
O pintassilgo resolveu, então, trazer provas
do que dizia. Chamou abelhas, com mel. Convidou borboletas coloridas.
Trouxe flores perfumadas...
Mas tudo foi inútil para os que não queriam acreditar.
- Este bicho é um grande
enganador, eles diziam. Sabemos que estas coisas não existem. Aprendemos em
nossas escolas...O rei reuniu seus generais e ponderou que as ideias do
pintassilgo eram politicamente perigosas. As rãs estavam perdendo o interesse
pelo trabalho. Produziam menos. Com isto havia menos recursos para as despesas
do Estado, especialmente uma ferrovia que se pretendia construir, ligando um
lado do poço ao outro. Trabalhavam menos, coaxavam mais. Claro que as palavras
do pintassilgo só podiam ser mentiras deslavadas, intrigas de oposição...
Os revolucionários, igualmente, puseram o pintassilgo de quarentena, pois o seu canto enfraquecia politicamente as rãs dominadas, que agora estavam mais interessadas em sair que em revolucionar o poço.
As rãs intelectuais, por sua vez, se puseram a fazer a análise filosófica, ideológica e psicanalítica da fala do pintassilgo. O seu relatório foi longo. Nele concluíram que de um ponto de vista filosófico, faltava rigor ao discurso do pássaro, pois ele mais se aproximava da poesia que da ciência, de um ponto de vista ideológico, tratava-se de um discurso alienado, no qual não se fazia nem mesmo uma análise crítica das condições objetivas da sociedade ranal; de um ponto de vista psicanalítico, era óbvio que o pintassilgo sofria de perigosas alucinações que, dado o seu conteúdo, poderiam se transformar num fenômeno de massas.
Observaram, finalmente, que dadas as evidências, o pintassilgo se constituía num grave perigo tanto para a cultura como para as instituições do mundo das rãs. E com isto pediam das pessoas de boa vontade e responsabilidade as providências devidas para erradicar o mal.
O manifesto das rãs foi acolhido unanimemente tanto pelos líderes da direita como pelos líderes da esquerda pois, para além de suas discordâncias conjunturais, estava seu compromisso comum com o bem-estar e a tranquilidade da família ranal. Por ocasião da próxima visita do pintassilgo, ele foi preso, acusado de enganador do povo, morto, empalhado e exposto no Museu de História. Quanto às rãs, foram para sempre proibidas de coaxar as canções que o pintassilgo lhes ensinara. Um aluninho-rã, que visitava o museu, perguntou à sua professora:
- Que é aquilo, professora?
- É um pintassilgo, ela respondeu.
- E que coisas estranhas são
aquelas nas suas costas? ele perguntou.
- São asas...
- E para que servem? Ele
insistiu.
- Para voar...
-E nós voamos?
-Não, respondeu a professora.
Nós não voamos. Nós pulamos...
E não seria melhor voar?
A professora compreendeu então, com um
discreto sorriso, que um pintassilgo, mesmo empalhado, nunca seria esquecido.
A alienação parental é um poço fundo, abandonado e
escuro que alguém cavara, muitos e muitos anos atrás, não se sabe bem para que.
Pular
no buraco é fácil. O difícil é pular para fora dele. O poço era fundo demais e elas
nunca mais puderam sair. Ficaram vivendo lá dentro. Casaram-se; tiveram filhos,
multiplicaram-se e as rãzinhas (os filhos alienados) aprendiam que o seu era o
melhor dos mundos.
Havia as rãs fortes e
truculentas (alienadores
parentais). Elas mandavam nas
outras que eram fracas e tinham de obedecer e trabalhar dobrado (para pagarem a pensão
alimentícia).
As rãs
oprimidas achavam, com toda a razão, que isto era uma injustiça. E, por
isso mesmo, preparavam-se para uma
grande revolução que poria fim a esse estado de coisas (pais que exigem nova postura do judiciário, fazem
denúncias aos órgãos competentes, etc). Quando a classe dominante fosse derrubada, a vida no fundo do poço
ficaria democrática e os insetos seriam distribuídos com justiça...(guarda compartilhada)
Aconteceu, entretanto, que um pintassilgo que voava por ali viu a boca do poço. O pintassilgo morreu de dó ao ver as pobres rãs, prisioneiras daquele buraco fétido e escuro, sem nada saber do lindo mundo que havia fora do poço (Juízes que aplicam na integra a Lei da guarda compartilhada).
O pintassilgo resolveu, então, trazer provas do que dizia. Chamou abelhas, com mel. Convidou borboletas coloridas. Trouxe flores
perfumadas...(Interessados
na aplicação da guarda compartilhada na integra levaram estudiosos, promotores,
advogados, juízes, desembargadores, psicólogos, assistentes sociais, sociólogos
para Congressos)
Mas tudo foi inútil para os que não queriam acreditar.
Quanto às rãs (filhos alijados de um dos
genitores), foram para sempre
proibidas de coaxar.
Pais, mães, avós, tios, madrastas, padrastos,
profissionais, não vamos deixar os poucos pintassilgos morrerem, vamos nos unir
nessa causa. Vinte milhões de crianças estão vivendo no fundo do poço. Vamos
revolucionar o buraco e libertar a todos. O mundo aqui fora é muito mais bonito
que o mundo escuro da alienação parental.
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