Muito tem se falado em redução da
maioridade penal. No entanto, a grande maioria da população está ignorando
determinantes sociais e históricas que geram a criminalidade. Isso no mínimo é
desresponsabilizar o Estado e a sociedade pela promoção de melhores condições
ao desenvolvimento de crianças e adolescentes.
De que lugar falamos quando exigimos
penas mais duras para menores?
Falamos da classe Média, burguesa,
capitalista, mas nós sabemos que, na grande e esmagadora maioria dos casos, a
punição contra atos infracionais recai sobre a população de baixa renda,
comumente em situação de vulnerabilidade social, ou seja, o Estado não lhes
garante nem condições de acesso a direitos básicos.
A PRIVAÇÃO dos direitos fundamentais
engendra o Estado como violador de direitos na medida em que, como resposta aos
atos infracionais, apresenta a institucionalização de adolescentes em locais
onde se há violações de direitos sob o pretexto de “”reeduca-los”” e ‘’reinseri-los””,
sempre sob a lógica dos aparelhos de controle e opressão. Asilam os
adolescentes em instituições que apenas o ALIENAM, não só em sua própria subjetividade,
como também de seu direito ao convívio familiar e comunitário.
No meu
entender todo crime é à priori político e o Estado é culpado pelos
crimes ocorridos e não o criminoso.
Nós somos
frutos de um sistema corrupto. Não é no mínimo um contra senso o País
culpabilizar os ‘filhos’ pela má educação que lhes deram?
A violência
moderna tem o seu nascimento no movimento capitalista que resume a vida do
homem a uma mera luta pela riqueza. Antes de pensar no coletivo, pensa-se na
vantagem individual. Os políticos deixam à margem a origem da verdadeira violência
e apontam a criminalidade como causa principal de todos os problemas sociais.
A mídia
estampa diariamente nos programas e jornais sensacionalistas o crime visível,
com isso desviam a atenção da violência contida na dinâmica capitalista,
verdadeira causa do fosso social.
Não será o
crime o sintoma de uma sociedade de desigualdades de classes?
A miséria,
a pobreza, o analfabetismo, o desemprego, falta de acesso ao conhecimento e à
inclusão digital, são fatores que desfavorecem os mais pobres, levando-os
geralmente para o tráfico, para o crime de pequenos roubos e furtos. Neste
mercado de trabalho ilegal nunca faltam empregos, não analisa currículos, não
exige qualificação, não pele graduação, pós, mestrado nem doutorado e paga-se
bem e não tem burocracia.
Por quê o
Estado não fornece atendimento médico, social e psicológico aos usuários de
drogas ao invés de punir os traficantes?
Fica caro,
não é?! E o Estado capitalista corrupto precisa acumular riquezas. Cofres
públicos e bolsos dos políticos precisam de dinheiro, não podem gastar com
Casas de Recuperação para drogados, mesmo porque, essa não seria a solução, já
que o problema é de base educacional.
Só com mudança severa e séria na estrutura do ensino fundamental/médio, é que
se equacionaria o problema e isso levaria anos, claro, sempre junto e aliado a
políticas de erradicação da pobreza.
O capitalismo
se sustenta de dinheiro seja ele gerado de qualquer forma. O sistema ‘aceita’ o
crime, porque, este gera dinheiro, virando então, mercadoria. Afirmo que
aceita, no sentido de que não tem a menor intenção de diminuir as diferenças de
classes, promover empregos e educação de qualidade, etc. Note que o crime é
gerador de empregos legais, pois, penitenciárias, cadeias, presídios, centros
de detenção provisórias, e afins, necessitam de funcionários, todos públicos.
Não é uma ironia que os ‘concursados’ sejam também parte da massa dominada e
nem se apercebam disso? Muito pelo contrário, se acham parte da elite dominante
só porque quem não teve oportunidade de trabalho legal com salário digno está
preso e lhes prestam obediência. O agente penitenciário é tão preso ao sistema quanto
o presidiário, já que o primeiro não tem autonomia financeira para suprir como
deseja suas necessidades de moradia própria quitada, alimentação de qualidade,
saúde e educação particular, lazer e principalmente não consegue comprar tudo
que os filhos desejam da esfera da tecnologia, como celulares de última
geração, notebooks e impressora de alta resolução, Tablets, ipode, ipad,
“ai-não-dou-pq-não-posso”.
Um Estado
que converte as relações humanas em exploração do homem pelo homem na busca de
riqueza e acumulo privado de capital, também não deveria ser punido?
Por quê,
então, tudo recai sobre os menores de idade?
Não
estaremos aqui fazendo o papel do filho alienado, que não quer ver ou ouvir a
outra parte?
Não será o
Estado o grande alienador de nós todos? Não estará o Estado nos fazendo
acreditar em grandes mentiras, nos dificultando entendimento, não desvaloriza e
insulta o menor ao lhe proporcionar um ensino público de péssima qualidade, não
impede que nossos direitos sejam exercidos, não toma decisões sem nos
consultar, não nos impede a informações, não nos ameaça e nos pune o tempo
todo?
O Estado
que nos aliena, nos constitui enquanto sujeitos alienados.
No lugar de
fazermos movimentos para reduzir a maioridade penal não seria melhor fazer Atos
para que o governo de fato se mobilize e mude a política corrupta que se
instala desde sempre em nosso País?
Reduzir a
maioridade penal ou aumentar o VERGONHOSO salário mínimo?
Reduzir a
maioridade penal ou exigir uma escola onde o aluno saia ‘sabendo ler e
escrever’, sim, porque, hoje com a progressão o aluno que ficaria retido em
outras épocas, é promovido para série seguinte muitas vezes sem ao menos estar
alfabetizado. Por que o governo não abre escolas técnicas para que o aluno das
classes menos favorecidas possam sair capacitados?
Por quê nos
presídios não têm classes escolares obrigatórias onde o preso pudesse, além de
não ficar ocioso, sair com alguma formação?
Ficar com
ódio do menor marginal é o mesmo que ter ódio de um filho alienado. Ele é tão
vítima do Estado quanto nós pais vítimas dos genitores alienadores.
O
traficante abastece o mercado de mercadoria. É a lei da oferta e procura. Se
não houvesse o usuário, não haveria o traficante. E o vício não é de forma alguma
uma doença e sim um sintoma, quem sabe até da alienação parental, mas isso é
assunto para o próximo texto.
Eu e o Conselho
Regional de Psicologia nos posicionamos totalmente contrários a quaisquer violências
e ou violações de direitos, sobretudo aqueles relacionados a infância e a
juventude e consideramos a criminalização de menores uma forma de
desresponsabilizar o Estado e a sociedade do seu papel de proteção e promoção
de direitos.
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