quarta-feira, 8 de abril de 2015

Colcha de retalhos.


Hoje tenho um (des)aniversário para (des)comemorar e a mensagem é para os filhos do divórcio.
Esse poema se chama Verdade e é de Carlos Drummond de Andrade.
A porta da verdade estava aberta,
           mas só deixava passar
           meia pessoa de cada vez.

           Assim não era possível atingir toda a verdade,
           porque a meia pessoa que entrava
           só trazia o perfil de meia verdade.
           E sua segunda metade
           voltava igualmente com meio perfil.
           E os meios perfis não coincidiam.

           Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
           Chegaram ao lugar luminoso
           onde a verdade esplendia seus fogos.
           Era dividida em metades
           diferentes uma da outra.

           Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
           Nenhuma das duas era totalmente bela.
           E carecia optar. Cada um optou conforme
           seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
A verdade não existe por si só. Ela sempre está carregada de subjetividade, de vivências passadas, de expectativas frustradas. A verdade é sempre distorcida pelo olhar de quem a conta. 
Numa separação temos uma verdadeira colcha de ‘retalhos de verdades’: a verdade de quem desejava a separação, a verdade do ‘abandonado’ que carrega mágoa e decepção na alma, a verdade dos familiares paternos e dos maternos e principalmente a verdade dos filhos.
Mas qual é a verdade dos filhos em meio a tanta confusão?
Qual a metade mais bela?
É necessário e urgente optar, mas a criança está míope e confusa.
Qual verdade é a mais bonita, a da mamãe ou a do papai?
Ele quer as duas e não tem maturidade emocional ou psíquica para escolher apenas uma.
A mãe com medo corre e fecha a porta e se tranca do lado de dentro com sua criança indefesa. Agora numa relação simbiótica não há mais que optar, as dúvidas acabaram. O filho no conforto do colo materno já não precisa comparar as metades diferentes: a dela é incontestavelmente a mais bela.
A verdade do papai é feia e é ignorada, desrespeitada, desprezada e não há a menor possibilidade dele se defender.
          Filho não duvide do amor do seu pai por você. Respeite o que você sente e esqueça o que você ouve.
          Seja imparcial, não caia na armadilha de optar por verdades distorcidas.
         Você tem todo direito e eu diria que também tem o dever de amar os dois de forma igual. Esse amor não é conjugal, é amor parental e por isso não carece de lealdade a um ou ao outro.
         Ame seu pai e ame a sua mãe. Cada um exerce um papel diferente na sua vida e você precisa dos dois para crescer um adulto emocionalmente saudável.
         Abra a porta do seu coração e deixe seu pai entrar. Ninguém é completo apenas com uma metade, complete-se. Diga não à alienação parental!



Um comentário:

  1. Que Deus abençoa Liliane Santi, e que sua luta possa contribuir para acabar de vez com essa guerra que só trás dor e sofrimento a toda família e especificamente a nossas crianças, obrigada. :(

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