quinta-feira, 28 de maio de 2015

O mito do instinto materno.

          O instinto do amor materno é um mito. O amor materno como qualquer outro é construído de acordo com exigências sociais de cada época.

          Nas sociedades medievais, por exemplo, as crianças viviam com as amas de leite, do nascimento até perto dos sete anos de idade, quando era devolvida aos pais. O índice de óbitos era enorme, mas ninguém se desesperava se os bebês morressem, pois, eram considerados seres sem alma. Os familiares não estabeleciam vínculos com elas, tampouco se preocupavam com sua saúde. A sobrevivência estava ligada à sorte e o infanticídio era comum até o século XVII. Abandono e negligencia eram aceitos pela sociedade.

          Se houvesse mesmo de fato o instinto materno, porque as mães daquela época se recusavam a amamentar e educar seus filhos? Por que os davam sem culpa para amas de leite cuidarem, sem mesmo se preocuparem em visitar as crianças ou saberem se estavam vivas?

          O abandono moral e afetivo era costume na época em todas as camadas sociais. Em algumas sociedades era permitido matar bebês do sexo feminino, em quanto ter bebês do sexo masculino era um motivo de ‘status’. O primeiro filho tinha mais privilégios que o caçula, por esses e outros exemplos, podemos afirmar que o amor materno é construído e não inato. Fosse assim, não teríamos ainda hoje mães indiferentes e ou, que rejeitam a prole, muitas vezes a jogando no lixo como vez em quando vemos na mídia.

          Se o instinto materno é um mito e o amor construído, por quê é tão difícil ao judiciário entender que o homem pode atender afetivamente as necessidades do filho?

          Meu pai não ocupava o lugar apenas de provedor como se espera o estereótipo de paternidade. Ele me alimentava, cuidava da higiene e limpeza, ajudava nos estudos, construía meus brinquedos e esbanjava ternura provando que MATERNAGEM não é assunto exclusivo de mulheres.

          Quem afirma que pai não cuida como mãe, está afirmando que os “papéis” desenvolvidos por cada sexo são pré-determinadas BIOLOGICAMENTE. E isso no mínimo é um absurdo.

          Meu pai, o “Italianão” era profundamente envolvido com a vida diária da família e principalmente na minha criação e depois na dos netos e bisneta. Manifestava afetividade e cuidados com alimentação, muito mais que minha mãe. Trazia à tona uma gama de emoções que foram desenvolvidas e aprendidas no desempenho da paternidade.

          Os vínculos estabelecidos entre pais e filhos são deslocados do sexo. A diferença sexual não influencia na construção de vínculos e sim a interação singular entre a criança e o adulto é que cria os laços. O amor se constrói no brincar, no lazer, nos cuidados, no preparar das refeições, nas noites em claro velando o filho doente.

          É preconceito achar que homens não podem desenvolver habilidades necessárias para cuidar efetivamente de seus filhos. A lógica usada nas decisões judiciais muitas vezes embasadas por psicólogos e assistentes socais devem ser revistas.

          A questão do melhor interesse da criança parece ser ponto pacifico entre juízes, advogados e assistentes sociais. Continuar dando guarda unilateral por acreditarem no mito do instinto materno é melhor pra quem?

          Que o afeto do meu pai me afetou, é fato. Jairzão, pescador, truqueiro, contador de piadas está me fazendo uma falta danada. Ele era uma ""mãe"" pra mim. Quando eu for viajar, quem vai molhar minhas plantas, cuidar da cachorrinha, recolher minhas correspondências? Quem vai ligar aos domingos me chamando para o almoço? Quem vai telefonar ‘n’ vezes por dia pra saber se estou bem?

          Eu faço questão de estar com ele todos os dias no hospital. A ausência de consciência dele não apaga meu agradecimento, reconhecimento e amor. Sou filha única e esses momentos de relembranças são únicos pra mim. Uma retrospectiva na memória: um inventário do que vivi ao lado do meu pai que eu amo demais. 

Um comentário:

  1. Sou novo neste assunto, e ainda bem, pois uma fez 18 anos e o outro vai pros 13 anos; nem sabia que estava neste pé pre-histórico, tolo e desinformado os tais fóruns da mulher; desculpe, é fóruns da vara da família. O que você escreveu sobre seu pai, é o meu caso, e caso de grande partes dos homens dessa década. Não pode o certo ser punido por alguns, mesmo que esses alguns sejam milhares, senão fica uma filosofia de loucos, tipo, milhares matam e roubam então todos matam e roubam. Tem que se respeitar a maioria, e maioria são como seu pai, eu e a maioria. Os fóruns décadas de 20, 30, 40, 50, tem que se atualizar. A gestação é automática, a criação no seu trato geral, é produto, caros juízes dos fóruns da mulher, de buscar interior sobre valores corretos que resulta em provas concretas, e não blá blá e chorinhos e isto se realiza através de esforços. Não é dado automaticamente. Desejo e vamos nos movimentar para acordar o pessoal dos fóruns de que temos que ver e pesar o lado da criança e do homem.

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