sábado, 16 de janeiro de 2016

“Mãe-avó”.


Nossos filhos não são ‘nossos filhos’, são filhos ‘da vida, do mundo’: eles não nos pertencem e depois de nascidos, existem e sobrevivem independente de nós. Nossa função é orientá-los e educa-los para que sejam seres autônomos.

Se nem nossos filhos ‘são nossos filhos’, muito menos nossos netos são nossos filhos.

Dia desses uma avó bem simplesinha me disse:

“Dona, ser avó, não é igual ser mãe de um filho próprio”.

Achei essa frase espetacular. Ela definiu muito bem o que confunde muita gente. Avós podem até fazer a função materna, mas nunca podem ocupar o lugar da mãe no emocional do neto.
Muitos avós acham que a/os filha/os não estão preparados para criar os seus próprios filhos e aí eles tentam “poupá-los do trabalho árduo” e da responsabilidade de criar as crianças. Alguns filhos que se acham sem experiência ou sem maturidade para se assumirem como pais acabam passivamente delegando a função de pai ou mãe para os avós do filho.

Avós deveriam ser reconhecidos pela transmissão de conhecimentos, valores, afeto e autoridade dentro da família e da participação na vida dos netos. Porém, a responsabilidade e obrigação de educar é papel primordial dos pais.

Apesar da responsabilidade pela criação sendo reconhecidamente dos pais, a criação das crianças é marcada pelas presenças femininas além das mães. Avós incorporam a responsabilidade materna, quando os filhos, por algum motivo, não assumem seus próprios filhos (muitas vezes por gravidez precoce, utilização de drogas o excesso de bebidas alcoólicas, alguma doença ou por comodismo mesmo).

Quando o filho ou filha é solteiro e mora no mesmo domicilio ou reside em casa próxima, os avós, mais precisamente as avós, participam dos cuidados do neto antes mesmo de assumirem definitivamente a criação dos mesmos. Isto ocorre devido a disponibilidade para exercer a função de cuidadora durante o período de trabalho dos pais da criança, ou por puro desejo de ser “mãe” novamente “com o propósito muitas vezes inconsciente de terem uma nova chance de ‘não errar’ ou corrigir algum erro que imaginam ter cometido ao criarem os próprios filhos; ou para ‘evitar’ que os filhos criem os seus netos de uma forma que não consideram correta; ou ainda numa tentativa de resgatarem em si mesmos a fase de juventude na época em que eram pais”.

Nas famílias formadas por três gerações em residência conjunta, pelo fato de as genitoras serem mães solteiras ou de um dos genitores ter se separado e retornado à casa dos pais, a avó parece atuar com mais proximidade na criação dos netos. Nesses casos, os pais geralmente são considerados pelas avós, despreparados para a função materna ou paterna. Elas muitas vezes se justificam acusando filha/o de irresponsável. Infantilizam os filhos e os desmerecem como pais.

As mulheres costumam ter participação ativa na vida familiar ao longo do ciclo vital e essa participação é renovada quando se tornam avós.

A maternagem dos netos pode ser considerado uma fonte de renovação e renascimento, possibilitando a chance de repensar antigos conflitos.

Além disso, o futuro genético representado pela chegada da criança, em meio às tarefas de aposentadoria, doenças e perda do cônjuge, traz à mulher uma nova importância e utilidade e os netos têm o poder de reavivar desejos, sonhos e ideais adormecidos.

Mas e quanto aos resultados da criação dos netos para as avós quando elas são cuidadoras integrais?

Segundo estudo realizado por Lopes, Neri e Park (2005), ressaltam que: ‘a maioria dos estudos sobre o tema apontam para os efeitos negativos sobre diversos âmbitos da vida das avós que criam os netos, como: sobrecarga financeira, conflitos com os filhos devido à divergências na educação das crianças e às vezes pela custódia legal dos netos. Além disso, queda na qualidade de saúde física e emocional das avós, com incidência de depressão e baixa saúde percebida, interferência na vida social e familiar, cansaço e esgotamento emocional”.

Avós que se disponibilizaram a cuidar dos netos mais ativamente, aumentam a probabilidade de que os pais não assumam ou assumam parcialmente as funções parentais e isso dia mais, dia menos não dará certo!

Um dia a filha/o amadurece, se casa ou recasa, muda de casa, de cidade, de estado e o neto se vai. E ai, o que acontece, como se sentem as avós que assumiram o lugar de ‘mães’ de seus netos?

Quais serão as consequências para a vida dessas mulheres e para os netos?

Quais as implicações da criação dos netos pelas avós?

Quando uma avó assume a criação do neto, estabelece-se uma configuração familiar específica e que merece atenção.

Um fenômeno idêntico ao do divórcio acontece quando o filho/a que a mãe julgava infantilizado resolve sair de casa e levar consigo o próprio filho. A avó ou os avós iniciam uma verdadeira batalha, muitas vezes judicial contra o filho/a, porque se acha ‘mãe’ do neto e quer mantê-lo em sua residência.

Iniciam-se, então, os atos de alienação parental de uma parte ou de outra, ou de ambas. Avós querem que o judiciário lhes assegurem o direito de serem ‘mães’ dos netos e filho/as querem começar a exercer a paternagem ou maternagem e a criança fica no centro dessa disputa entre mãe e filho/a.

A criança sofre, porque, fica confusa, reconhece na avó o papel de mãe e vê a mãe ou pai biológico como um irmão ou irmã mais velha.

Não é indicado que avós sejam os educadores permanentes de referência. Pais devem se responsabilizar pela vida e educação dos filhos e os avós deve ser apenas um ‘Pronto Atendimento’.
Quando pais saem da casa da infância deixando a ‘avó-mãe’, o neto “promove a DESUNIÃO” entre pais e filhos, mais comumente entre mãe e filha e como em casos de separação criança passa a pagar o ônus dessa desunião e se vê forçada a estabelecer o pacto de lealdade com genitor guardião.  

A fim de se evitar isso o ideal é manter o relacionamento entre avós, pais e filhos no lugar certo. “Pais cuidam de seus filhos do mesmo modo que foram cuidados por seus pais! Os netos visitam os avós, estabelecendo com eles vínculos de amor, admiração e respeito, sem que isso signifique que são responsabilidade dos avós. Pais criam seus filhos, assumindo a responsabilidade à qual se destinaram ao decidirem ter filhos. E, eventualmente, quando for necessário, os pais recorrem à ajuda dos seus pais, reconhecendo o favor e agradecendo com compreensão, respeito e afeto”, (Edel Ferreira).

A criança não pode ser usada como bode expiatório. A criança é inocente. Não foi a causadora e muito menos idealizadora da desavença, da discórdia, da rixa entre sua mãe e avó. Não pode ser responsabilizadas por ‘culpas alheias’.

A única saída para essa situação é a ‘mãe-avó’ se harmonizar com a filha/o através de mediação/conciliação, para que possa rever seu papel e retomar o contato com netos de forma equilibrada e saudável.




6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Realmente, muitos avós são culpafos pelos filhos não aprenderem a ser mães e pais. Ao invéz de orientá-los de como proceder, atuam como ral, tirando o dever e a responsabilidade dos pais de na prática, aprendrem a ser mãe ou pai, prejudicando tanto os filhos como os netos.

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  3. Realmente, muitos avós são culpafos pelos filhos não aprenderem a ser mães e pais. Ao invéz de orientá-los de como proceder, atuam como ral, tirando o dever e a responsabilidade dos pais de na prática, aprendrem a ser mãe ou pai, prejudicando tanto os filhos como os netos.

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  4. Boa noite. Pergunto à autora: como (re) harmonizar o relacionamento entre avós e filhos q são pais e moram na mesma casa?

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