Nossos
filhos não são ‘nossos filhos’, são filhos ‘da vida, do mundo’: eles não nos pertencem e depois de nascidos,
existem e sobrevivem independente de
nós. Nossa função é orientá-los e educa-los para que sejam seres autônomos.
Se nem
nossos filhos ‘são nossos filhos’, muito
menos nossos netos são nossos
filhos.
Dia
desses uma avó bem simplesinha me disse:
“Dona, ser avó, não é igual ser mãe de
um filho próprio”.
Achei
essa frase espetacular. Ela definiu muito bem o que confunde muita gente. Avós podem até fazer a função materna,
mas nunca podem ocupar o lugar da
mãe no emocional do neto.
Muitos
avós acham que a/os filha/os não estão preparados para criar os seus
próprios filhos e aí eles tentam “poupá-los do trabalho árduo” e da
responsabilidade de criar as crianças. Alguns filhos que se acham sem experiência
ou sem maturidade para se assumirem como pais acabam passivamente delegando a função de pai ou mãe para os avós
do filho.
Avós deveriam ser reconhecidos pela transmissão de
conhecimentos, valores, afeto e autoridade dentro da família e da participação
na vida dos netos. Porém, a responsabilidade
e obrigação de educar é papel primordial dos pais.
Apesar da responsabilidade pela criação sendo
reconhecidamente dos pais, a criação das crianças é marcada pelas presenças
femininas além das mães. Avós incorporam
a responsabilidade materna, quando os filhos, por algum motivo, não assumem
seus próprios filhos (muitas vezes por gravidez precoce, utilização de drogas o
excesso de bebidas alcoólicas, alguma doença ou por comodismo mesmo).
Quando o filho ou filha é solteiro e mora no mesmo domicilio
ou reside em casa próxima, os avós, mais precisamente as avós, participam dos cuidados do neto antes
mesmo de assumirem definitivamente a criação dos mesmos. Isto ocorre devido a
disponibilidade para exercer a função de cuidadora durante o período de
trabalho dos pais da criança, ou por
puro desejo de ser “mãe” novamente “com o
propósito muitas vezes inconsciente de terem uma nova chance de ‘não errar’
ou corrigir algum erro que imaginam ter cometido ao criarem os próprios filhos;
ou para ‘evitar’ que os filhos criem
os seus netos de uma forma que não consideram correta; ou ainda numa tentativa
de resgatarem em si mesmos a fase de juventude na época em que eram pais”.
Nas famílias
formadas por três gerações em
residência conjunta, pelo fato de as genitoras serem mães solteiras ou de um
dos genitores ter se separado e retornado à casa dos pais, a avó parece atuar
com mais proximidade na criação dos netos. Nesses casos, os pais geralmente são considerados pelas avós, despreparados
para a função materna ou paterna. Elas muitas vezes se justificam acusando filha/o de irresponsável.
Infantilizam os filhos e os desmerecem como pais.
As mulheres costumam ter participação ativa na vida
familiar ao longo do ciclo vital e essa participação é renovada quando se
tornam avós.
A maternagem dos netos pode ser considerado uma fonte
de renovação e renascimento, possibilitando a chance de repensar antigos
conflitos.
Além disso, o futuro genético representado pela
chegada da criança, em meio às tarefas de aposentadoria, doenças e perda do
cônjuge, traz à mulher uma nova
importância e utilidade e os netos têm o poder de reavivar desejos, sonhos
e ideais adormecidos.
Mas e quanto aos resultados da criação dos netos para
as avós quando elas são cuidadoras integrais?
Segundo estudo realizado por Lopes, Neri e Park (2005),
ressaltam que: ‘a maioria dos estudos sobre o tema apontam para os efeitos negativos sobre diversos
âmbitos da vida das avós que criam os netos, como: sobrecarga financeira, conflitos com os filhos devido à divergências na educação das crianças
e às vezes pela custódia legal dos netos. Além disso, queda na
qualidade de saúde física e emocional das avós, com incidência de depressão e
baixa saúde percebida, interferência na vida social e familiar, cansaço e
esgotamento emocional”.
Avós que se disponibilizaram a cuidar dos netos mais
ativamente, aumentam a probabilidade de
que os pais não assumam ou assumam parcialmente as funções parentais e isso dia
mais, dia menos não dará certo!
Um dia a
filha/o amadurece, se casa ou recasa, muda de casa, de cidade, de estado e o
neto se vai. E ai, o que acontece, como se sentem as avós que assumiram o lugar
de ‘mães’ de seus netos?
Quais serão as
consequências para a vida dessas mulheres e para os netos?
Quais as
implicações da criação dos netos pelas avós?
Quando uma avó assume a criação do neto, estabelece-se
uma configuração familiar específica e que merece atenção.
Um fenômeno idêntico ao do divórcio
acontece quando o filho/a que a mãe julgava infantilizado resolve sair de casa
e levar consigo o próprio filho. A avó
ou os avós iniciam uma verdadeira batalha, muitas vezes judicial contra o
filho/a, porque se acha ‘mãe’ do neto e quer mantê-lo em sua residência.
Iniciam-se,
então, os atos de alienação parental de uma parte ou de outra, ou de ambas. Avós
querem que o judiciário lhes assegurem o direito de serem ‘mães’ dos netos e
filho/as querem começar a exercer a paternagem ou maternagem e a criança fica no centro dessa disputa
entre mãe e filho/a.
A criança sofre, porque, fica confusa,
reconhece na avó o papel de mãe e vê a mãe ou pai biológico como um irmão ou
irmã mais velha.
Não é indicado
que avós sejam os educadores permanentes de referência. Pais devem se
responsabilizar pela vida e educação dos filhos e os avós deve ser apenas um ‘Pronto
Atendimento’.
Quando pais saem
da casa da infância deixando a ‘avó-mãe’, o
neto “promove a DESUNIÃO” entre pais e filhos, mais comumente entre mãe e
filha e como em casos de separação criança passa a pagar o ônus dessa
desunião e se vê forçada a estabelecer o pacto de lealdade com genitor
guardião.
A fim de se evitar isso o ideal é manter o
relacionamento entre avós, pais e filhos no lugar certo. “Pais cuidam de seus
filhos do mesmo modo que foram cuidados por seus pais! Os netos visitam os
avós, estabelecendo com eles vínculos de amor, admiração e respeito, sem que
isso signifique que são responsabilidade dos avós. Pais criam seus filhos,
assumindo a responsabilidade à qual se destinaram ao decidirem ter filhos. E, eventualmente, quando for necessário, os
pais recorrem à ajuda dos seus pais, reconhecendo o favor e agradecendo com compreensão, respeito e afeto”, (Edel
Ferreira).
A criança não pode ser usada como bode expiatório.
A criança é inocente. Não foi a
causadora e muito menos idealizadora da desavença, da discórdia, da rixa entre
sua mãe e avó. Não pode ser
responsabilizadas por ‘culpas alheias’.
A
única saída para essa situação é a ‘mãe-avó’ se harmonizar com a filha/o
através de mediação/conciliação, para que possa rever seu papel e retomar o
contato com netos de forma equilibrada e saudável.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBravo!
ResponderExcluirExcelente!
ResponderExcluirRealmente, muitos avós são culpafos pelos filhos não aprenderem a ser mães e pais. Ao invéz de orientá-los de como proceder, atuam como ral, tirando o dever e a responsabilidade dos pais de na prática, aprendrem a ser mãe ou pai, prejudicando tanto os filhos como os netos.
ResponderExcluirRealmente, muitos avós são culpafos pelos filhos não aprenderem a ser mães e pais. Ao invéz de orientá-los de como proceder, atuam como ral, tirando o dever e a responsabilidade dos pais de na prática, aprendrem a ser mãe ou pai, prejudicando tanto os filhos como os netos.
ResponderExcluirBoa noite. Pergunto à autora: como (re) harmonizar o relacionamento entre avós e filhos q são pais e moram na mesma casa?
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