quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Da paternidade à paternagem: quando os meninos viram homens.


Em meio a tantas desgraças que acontecem no submundo da alienação parental tenho encontrado muitas alegrias. Parafraseando a juíza Drª Ângela Gimenez: “me sinto honrada, lisonjeada e agradecida” pela confiança em mim colocada.
Hoje quero escrever sobre os ‘meninos que se tornaram homens’ através do exercício da paternagem.
Para ser pai não basta saber que é o pai biológico: é necessário conhecer o filho e a relação com ele.
Alguns rapazes solteiros que tiveram breve relacionamento com a mãe da criança, se ‘intitulam’ pai. Mas como a criança está alijada de seu contato, somente são pais porque seu espermatozoide esteve envolvido na fecundação de um óvulo, registrou o filho e nada mais.
 Paternidade significa um homem que se tornou pai biológico de alguém.
Muitas vezes são as avós que me procuram para contar a história e tomam a frente das negociações, e neste momento vejo o pai como um ‘menino’ tímido sem voz.
No decorrer dos encontros pergunto ao pai se ele quer exercer a paternagem ou está entrando com Ação de Regulamentação de Visitas à pedido de seus pais.
Uma vez o sujeito dito: - “É de minha livre e espontânea vontade......”, é hora de transformar o menino em ‘homem-pai’.
A paternagem significa se tornar importante e fundamental para o filho. Paternagem, diferentemente de paternidade, que pode acontecer com qualquer animal ou por ‘descuido’ no humano, vem do amor, da aceitação de todas as mudanças que a chegada de um filho representa na vida do homem, da busca de um novo papel masculino e do desejo puro e simples de que o filho cresça feliz e saudável.
A paternagem NÃO ocorre por acaso: ela é fruto do envolvimento ativo na busca por ser pai. Paternagem necessita de participação ativa na constituição emocional da criança e também no cuidar de suas necessidades básicas como bem-estar físico, higiene corporal, atividades lúdicas, alimentares, etc.

Então, recapitulando: paternidade pode simplesmente acontecer: por não planejamento reprodutivo, por absoluto descuido, por achar que o controle reprodutivo é função exclusiva da mulher (o que não é!). Paternidade é algo do domínio do biológico e pode acontecer com qualquer um, até com os invertebrados. Paternagem é algo do domínio do afeto, da escolha, de princípios éticos e morais, da humanidade, da reflexão, da presença, do envolvimento emocional, do sentir aquele ser que se escolheu criar como parte de si, do querer que ele cresça e se desenvolva pleno, saudável, íntegro, justo e convivendo em tempo equilibrado com ambos genitores.
Paternagem requer AMADURECIMENTO. Requer que o homem se liberte de pensamentos antigos de que ele é apenas provedor de sustento.
Muitos dizem que a vida é um palco e somos os atores. Na dinâmica familiar não há papéis principais mas, sim, participações conjuntas. Sem protagonistas. Sem coadjuvantes.
Que é o que se busca com a guarda compartilhada? Se busca o empoderamento coletivo: ‘um lugar onde todos assumam seus papeis enquanto indivíduos plenos, sem que seu protagonismo represente a opressão do outro’.
Eu quero dar meus parabéns especialmente para dois pais aos quais estou enviando esse texto in box. É lindo e emocionante ver o amadurecimento de vocês. Me sensibilizo e vejo que minha luta vale à pena a cada áudio, mensagem ou foto que me mandam com as descobertas que fazem da paternagem.
- “Minha filha disse que quer ficar aqui. A senhora precisava ver o jeito carinhoso que ela me trata e disse que me ama”. Foi uma SENSAÇÃO incrível ouvir isso.”
- “Doutora, estou fazendo os desenhinhos com ela. Já dei o remedinho, passei pomadinha nela, troquei fralda”.
- “Doutora, aprendi a passar o brilhozinho que minha filha gosta, acho que se chama Gloss”. É muito, muito especial ser pai de menina.
- “Precisa ver, a mamadeira que eu faço, ela toma tudinho!”.
Minha luta pelo restabelecimento dos laços entre crianças e genitor ausente se enche razão a cada convite de aniversário que recebo, a cada convite para o ‘primeiro almoço em família’ ou para a ‘festa do pernoite’ com direito a bolo e tudo mais, em que no convite diz: - A senhora fez parte dessa conquista.
Vocês são minha inspiração e energia. Curtam ai as maravilhas da paternagem. Um grande abraço pra vocês que há quatro meses atrás eram meninos e hoje são homens. Me sinto muito orgulhosa e com missão cumprida. Meus respeitos a vocês que ‘fizeram a lição de casa certinha’. Nota 10 com Louvor e um abraço grande.
Guarda compartilhada em tempo equilibrado para todos!
Chega de empoderamento unilateral.
Tanto no palco da vida como no coração das crianças tem lugar pra todos. Não aceitem papéis secundários, pois não há genitor de primeira ou segunda grandeza!
 Forças e êxito na luta de cada um de nós!



3 comentários:

  1. EXCELENTE LILIANE...muito BOM esse texto dá vontade de tirar umas 100 xerox e colar nos postes na frente do fórum, atrás do mesmo etc...etc...umas intervenções urbanas desse tema!

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  2. Como sempre, lucidez, seriedade e competência ao tratar desse assunto tão delicado. Parabéns Dra. Liliane...quisera eu que a senhora conversasse meia hora com a mãe do meu filho!!!

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