terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A estreita janela da lembrança.

Hoje resolvi escrever para uma série de genitores que tratam os filhos já crescidos de modo infantilizado.

A maioria dos adultos tende a alterar a fala quando interage com bebês, mudam a entonação da voz e dizem as palavras mais pausadamente, forma de expressão chamada tatibitate, também conhecida como ‘mamanhês’, ‘papinhês’ ou ‘nenenês’, mas tem genitores falando para crianças de 5, 6, 7....10 anos:

- “Totoso”;
-  “Xerosim do papai/da mamãe”;
- “Té papá, nenê?”;
- “Té nana?”,
-“Pincípe, pincesa’, entre outras.

Os genitores devem fazer o filho crescer bio-psico-emocionalmente e não fazerem a manutenção de comportamentos de quando eram bebês.

Tenho estudado o fenômeno e estou levantando hipóteses de que genitores alienados param no tempo em que moravam na mesma casa que a criança.

Poderíamos resumir o drama do adulto da seguinte forma: um dia a realidade da alienação parental o atingiu intensamente, abrindo feridas profundas e difíceis de fechar, alijando-o do filho.

Frágil, perdido e impotente, paralisou no tempo e não pôde prosseguir o acompanhamento da evolução da criança.

Quando consegue algum contato com o filho anos mais tarde, vê que o corpo da criança cresceu, mas o genitor que passou tempos ausente continua sentindo e percebendo o filho pela estreita janela de suas lembranças de quando conviviam diariamente.

Mas o tempo passou.......e o relacionamento entre genitor ausente e filho fica desajustado: querem brincar de ‘faz de conta’ com mocinhas de 15 anos, colocar fraldas em crianças de 6, dar mamadeira para infantes de 11 anos.

Dia desses um pai estava procurando desesperadamente cartinhas de Pokemon, porque havia finalmente conseguido regulamentar as visitas, só que o rapaz já está com 16 anos e certamente tem outros interesses.

Parece que para ‘defender-se’ da dolorida ausência o genitor alienado cria fantasias, constrói ilusões, ergue muralhas e trava guerras imaginárias para sobreviver emocionalmente como se os anos não estivessem passando.

Suas dores e dificuldades acentuaram-se quando não consegue perceber que o filho cresceu e se tornou outra pessoa bem diferente daquela criança de outrora.

Cabe ao genitor sair do estado de inércia que se encontra, enfrentar sua dor e continuar. Necessita reconhecer que tem que se apresentar ao filho e iniciarem nova vida. Necessitam se conhecerem de novo. O filho ‘infantil’ não existe mais.  

Constantemente nos deparamos com a imensa dor daqueles que se sentem cansados, ‘perdidos’ e impotentes para enfrentar a própria realidade. Por vezes, lutam para encobrir, de si mesmos, as feridas latentes que essa ausência causou. Mas, para aceitar o filho crescido, é preciso ter a coragem de descortinar a realidade íntima e perceber que a infância está vencida e infelizmente o tempo perdido não volta mais!

Não adianta chorar o leite derramado, porque os dias só andam para frente.  O genitor ausente não vê a troca de dentes, o balbucio das primeiras palavras, os passinhos se firmando, a evolução da coordenação motora, a construção das frases com erros de concordância, o primeiro dia da escola, o batismo, a primeira comunhão, a formatura, os fios de bigode crescendo, a primeira menstruação....
Geralmente o adulto alienado quando volta a ter contato com filho desperdiça precioso tempo buscando culpados, quando seus esforços deveriam ser direcionados para resgatar a condição de pai ou mãe.

Muitos filhos alienados quando voltam para o convívio com genitor ausente, vem muito ‘revoltado’ e se achando senhor/as de si:

“Eu posso! Eu quero! Como ousa me contrariar?” Arrogantes, caprichosos, vaidosos e individualistas. Atropelam os outros e a realidade, para impor a sua vontade e mando. Não consideram, sequer, que o outro exista e possa pensar ou fazer diferente dele. Não aceita a autoridade do pai ou mãe que esteve ausente e não enxerga ninguém e nada, além de seus caprichos. Usam as pessoas para satisfação de suas necessidades, depois as descartam sem ao menos dizer: obrigado.

Os filhos rebeldes querem convencer o mundo, a qualquer custo, de sua verdade, não aceitando serem contrariados. Vaidoso, gostam de ser o centro das atenções e de ter o seu ego afagado e para isso eliminam o novo/a companheiro/a do genitor que esteve ausente, transformando a relação do casal num verdadeiro inferno.

Desejam ser servidos, e prontamente atendidos, em todas as suas necessidades, apresentando grande dificuldade para lidar com contrariedades.

Não cumprem as regras da casa, não aceitam limites e não querem responsabilidades. E é ai que entra o descontentamento dos novos companheiros do genitor alienado.

O genitor que infantiliza o filho com medo de perde-lo de vista de novo, deixa de colocar regras e limites e na casa ‘tudo pode’.

Criança precisa de educação, zelo, respeito, toque e carinho, e também disciplina ordenada, que é o sentido de organização pessoal. Criança precisa aprender desde cedo a agradecer a todos que lhe cuidam. Precisam aprendem a agradecer pelo bolo de chocolate feito pela esposa do pai, precisam agradecem a carona dada pelo marido da mãe, os presentes dados pelos avós, etc.

Não é bom tratar uma criança com mimos exagerados, pois ela se tornará um adulto extremamente exigente nos relacionamentos sejam eles amorosos afetivos, familiares, profissionais. Filhos precisam ser educados e estruturados para o crescimento e não para regressão.

Querendo agradar o filho em TUDO, certos pais/mães têm deixado os companheiros de lado nos dias de convivência com a criança.

Tem pais/mães mandando a/o nova/o companheira/o dormir no sofá para dar lugar na cama pra criança. Muitos vão para shoppings, parques temáticos, passeios de balão, de quadriciclo, tirolesa, finais de semana em chalés no campo e outros compromissos em dupla e se esquecem de agregar novo filho e ou nova esposa/marido.

Ser maduro é ter uma personalidade singular com boa capacidade crítica para separar o que é bom para si e para todos da família. Novos companheiros não devem ficar alijados do contato com a criança. Quem se casou tem uma nova família, muitas vezes com filhos e os irmãos devem fazer atividades juntos. Nada de se trancar no quarto para jogar vídeo game com o filho mais velho e deixar o outro chorado atrás da porta.

O mesmo conselho serve para agregar outros membros da casa. Tem gente usando a companheira para lavar, passar, cozinhar, limpar como se ela fosse empregada da criança, mas na hora do passeio a “Escrava Isaura” fica na senzala.

 Muitos genitores sequer permitem que a companheira/o possa entrar no próprio quarto para tirar uma soneca após o almoço, porque a criança quer, por exemplo, assistir filme na cama do casal.
Felizmente o humano é racional e pode mudar em qualquer época da vida. Se você está agindo assim, mude. Não cometa injustiças com seu/sua parceiro/a que é seu suporte emocional no restante dos dias do mês.

Seja o autor de uma nova história. Aja com seu filho de acordo com a idade cronológica dele. A infantilização é a negação da realidade é um artifício utilizado para fugir da "dor do crescimento", mas olhe ao redor e perceba que seu filho cresceu e não há mais necessidade de trata-lo como um bebê indefeso.

O papel do pai e mãe é de educar e orientar e é só ensinando limites que eles irão respeitar o novo espaço em que vive sua família extensa com meio irmãos, mãe e avós destes.
Não torne desconfortante um final de semana que deveria ser maravilhoso para todos. Reúna a família. Cada integrante deve somar e não dividir o amor.

Felicidades pra todos!  


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