Muitas vezes as necessidades
emocionais dos indivíduos os ‘ludibriam’ e arrastam para verdadeiros desastres
matrimoniais.
Quase todos os dias
ouço a pergunta: Por que os alienadores alienam?
Tenho percebido
infinitas variáveis, mas hoje vou escrever sobre uma que tenho percebido ser a
mais comum.
Muitos indivíduos fantasiam o casamento ideal e criam
expectativas inatingíveis. Procuram parceiros que eles julgam frágeis e
carentes e se acham capazes de proporcionar a eles a “felicidade eterna” e como
isso é impossível, se
frustram. Não conseguem aceitar quem
o parceiro é, só enxergam quem
queriam que ele fosse.
Para explicar melhor,
vou dar cinco exemplos reais de reclamações que mais aparecem nos processos:
1 - Não posso compartilhar a guarda do meu filho
com meu/minha ex marido/mulher, porque ele/a é um/a drogado/a.
2 - Não posso
compartilhar a guarda do meu filho com meu/minha ex marido/mulher, porque ele/a
é um/a alcoólatra.
3 - Não posso
compartilhar a guarda do meu filho com meu/minha ex marido/mulher, porque ele/a
faz ‘programas’.
4 – Não posso
compartilhar a guarda do meu filho com meu/minha ex marido/mulher, porque ele/ela
é esquizofrênico (ou tem qualquer outra doença psiquiátrica).
5 – Não posso
compartilhar a guarda do meu filho com meu/minha ex marido/mulher, porque
ele/ela faz rodizio de madrastas/padrastos, ele/ela não ‘valem nada’, ele é
mulherengo e ela é ‘vagabunda’.
Quando começamos a
perguntar sobre a história de vida do ex casal, verificamos que os problemas
mencionados como sendo os que afastaram recentemente marido e mulher foi o
mesmo que os uniu no passado.
Como diz o dito
popular: “Quem ama o feio, bonito lhe parece”. No auge da paixão o apaixonado perde a razão e não avalia e não
considera os comportamentos do outro um problema.
Muito conheceram o/a
companheiro/a nos grupos dos ‘Narcóticos Anônimos’, ou seja, sabem que o outro
é ou era usuário e se lá se conheceram é porque o/a parceiro/a também é, foi ou
é filho/a de quem foi o é drogadicto/a. Sendo
assim, a pessoa que escolheu se envolver com o toxicodependente
sabe bem o que a espera e quais serão os principais problemas do relacionamento: gastos com compra de drogas, mudanças de
comportamento dependendo do tipo do entorpecente, como agressividade,
passividade, perda de trabalho por falta de foco, desanimo, falta de higiene,
irresponsabilidade com cuidados com casa e filho, etc.
Quem
conhece o/a parceiro/a bêbado caído num canto da balada todo/a vomitado/a, vai
esperar o que? Que após o ‘sim’, ambos vão viver felizes para sempre? E que
depois da 12ª badalada do relógio o vício no álcool desapareça?
Trabalhei
em dois casos muito parecidos. No primeiro o rapaz conheceu uma ‘garota de
programa’. Ele namorou seis meses, noivou mais dez e até na véspera do
casamento ela ainda ganhava dinheiro vendendo sexo para os clientes. Depois,
parou, teve dois filhos e a vida seguiu com ela sendo ‘dona de casa’, até que
seis anos depois ela disse: Amor, quero voltar a trabalhar e ele se separou
dela e está lutando para ter a guarda unilateral das crianças.
No
segundo caso, o rapaz era ‘barman’, desses que dançam semi nus em cima do
balcão e colocam fogo nos drinks. A moça engravidou dele na primeira vez que o
viu. Fizeram sexo ali mesmo no quarto que ele tinha na boate. A paternidade foi
confirmada posteriormente por um exame de DNA, mas ela se nega a compartilhar a
guarda, porque ele é dançarino.
Aqui
em Campinas temos um hospital psiquiátrico chamado Cândido Ferreira e foi lá
que a enfermeira se apaixonou perdidamente pelo paciente esquizofrênico. Será
que ela não sabia as características da doença e as consequências dela,
principalmente na possível inabilidade dele em cuidar dos filhos?
Quanto
ao “mulherengo” e à “vagabunda” os exemplos encheriam um livro. É um tal de
gente casando com a cunhada, com cunhado, com sogra, com sogro, com enteado,
enteada, com marido ou mulher de amigos, sendo que esses todos estavam
compromissados na época do novo romance.
Tem
vezes que preciso fazer esquema no papel para entender quem é mãe ou pai de
quem. João era casado com Maria (e tem 2 filhos com ela), mas tinha um caso com
Joana que era casada com Joaquim. Ao mesmo tempo João tinha relações sexuais
com Bia, mas dizia a Joana que não gostava muito dela, só do sexo. Bia namorava
Alfredo, que se relacionava sexualmente com Carmem. João resolveu se separar de
Maria e ir morar com Joana, mas na hora “H” ela não conseguiu se separar do
marido que disse que ficaria com filhos.
Com
apartamento montado ele chamou para ocupar o imóvel Bia, que estava gravida e
sabia de Maria e Joana. Após nascimento da criança, Joana se separou e resolveu
dar uma chance ao amor e João se separou de Bia e seguiu a vida com Joana que
engravidou no mês seguinte. Quando a criança estava com um ano de idade João se
apaixonou pela babá e se mudaram de cidade para construírem nova família.
Atualmente
Maria, Joana e Bia NÃO permitem que João conviva com os filhos, porque ele é
‘mulherengo’. Só agora descobriram isso?
O
mesmo se aplica ao marido que soube durante toda constância do casamento dos
casos extraconjugais da esposa e agora reclama que ela faz ‘rodizio’ de
padrastos.
As
pessoas são como elas são. Ninguém pode se achar carregado de super poderes de
transformação. Esse sentimento de onipotência pode trazer grandes
frustrações.
Geralmente quem insiste
em levar adiante um relacionamento que no fundo sabem que será um desastre
matrimonial, veio de um lar desajustado e não teve suas necessidades emocionais
satisfeitas, tenta suprir sua carecia afetiva através de outra pessoa, tornando-se
super atenciosas e fazendo de tudo para modificar a personalidade do sujeito
com o objetivo de que os comportamentos que julgam inadequados desapareçam e as
pessoas lhe sejam gratas eternamente. Tentam a todo custo transformar as pessoas
através do seu amor, mas não conseguem, como também não conseguiram
transformar seus pais em pessoas atenciosas, amáveis e afetuosas.
Quando tudo parece
perdido, decidem, muitas vezes unilateralmente ter um filho para “Salvar a
Pátria” e a criança nasce com a
missão de ser a “Tábua de salvação dos náufragos que estão à deriva no alto
mar”.
Quando finalmente
percebem que o outro não se transformará na sua idealização romântica, nem mesmo com a chegada de um filho, tudo
começa a ficar bem diferente da época do namoro e o que não era problema no início
do casamento, passa a ser.
Na verdade isso ocorre,
porque a pessoa calcou suas fantasias de ‘felizes para sempre’ no outro,
achando que a convivência, o dia a dia seria capaz de modificar e moldar o/a
parceiro/a naquele/a homem/mulher ideal dos contos de fadas. Quando o outro
frustra as expectativas de amor eterno, quem investiu emocionalmente no ‘sonho
da plenitude amorosa’, se sente impotente, fracassado, ressentido consigo e com
outro por não ter conseguido satisfazer suas idealizações.
Com
raiva de si por ter perdido o “controle” do outro, o/a alienador/a começa a se
vingar de todos que estão no seu entorno e
a primeira vítima é o filho que não se prestou ao papel de “segurar o pai
ou mãe dentro do casamento”. Inconscientemente o/a alienador/a CULPA a criança por não ter conseguido
evitar a ruptura amorosa conjugal de seus pais. Como já disse, colocam a
criança no papel de “Salvador da Pátria” e se ela não consegue cumprir a “missão
que a trouxe ao mundo”, pagará muito caro pela frustração do genitor que a
colocou nessa função.
O
filho “incompetente” em manter os pais unidos NÃO poderá desfrutar da presença do outro que “ele não conseguiu segurar dentro de casa”. O castigo do filho que não soube “zelar” pela permanência do outro no
lar, será, o progressivo afastamento do genitor que saiu da casa.
O/a alienador/a
NÃO aceita a sensação de desilusão,
desapontamento e insatisfação consigo mesmo/a e com o filho, porque, não suporta
a ideia de que “ambos” foram incompetentes na gestão daquele relacionamento, por isso, condena o filho a ficar longe
de quem ele não foi capaz de manter perto.
O/a
alienador/a amarra a criança num cordão umbilical invisível e a arrasta pra junto
de sua infelicidade. No caos dos desastres matrimoniais as indefesas crianças
perdem a voz. Seu/sua algoz responde por elas sem ao menos saber o que querem
dizer. A criança internaliza a “culpa” pela separação e tenta a todo custo
minimizar a dor do “perdedor”, ficando ao seu lado para ajuda-lo/a a suportar a
dor da ausência de quem partiu.
Para
fazer o/a parceiro/a que saiu de casa se sentir mal e culpado, propositalmente
o que ficou com filho faz questão de gritar aos quatro cantos que a família acabou,
sendo que apenas se modificou, morando agora seus integrantes em casas
separadas e com a possibilidade de construírem uma nova família da qual a criança
irá também fazer parte.
O/a
rancoroso/a quer que com o rompimento da união homem/mulher a parentalidade e o
poder familiar sejam extintos, mas o
acordo anulado foi o do marido com a mulher e não de pai ou mãe com filhos.
Estes últimos sim, estarão ligados ‘até que a morte os separe’.
A autoestima do/a
alienador/a é tão, tão baixa que com medo de serem esquecido/as, fazem qualquer
coisa para impedir o fim do relacionamento, mesmo que a continuidade se dê pelo litigio em processos judiciais.
Como experimentaram pouca segurança na infância, têm uma necessidade desesperadora
de controlar seus/suas parceiros/as e seus relacionamentos, tentam exercer esse
controle nos processos e na permissão ou não permissão do contato
paterno/materno filial.
Na
verdade, me parece que os alienadores geralmente são perdedores em todas as
esferas e a agitação criada por um relacionamento instável e por uma separação
desastrosa, são na verdade os únicos “eventos sociais” que preenchem a vida
desses solitários derrotados por si mesmos!
Muito bom seu texto. Vivo as consequências dessa alienação. Muito esclarecedor. Grata
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