Risco Suicida em Genitores Vítimas de Alienação Parental e Falsas Acusações: Reflexões Técnicas e Considerações de Prevenção
A atuação clínica e pericial na seara da Psicologia Jurídica tem revelado um aumento preocupante de sofrimento psíquico intenso em genitores que enfrentam processos de alienação parental e/ou falsas imputações de abuso sexual, especialmente em contextos de litígio judicial envolvendo guarda e convivência de filhos. Situações crônicas de exclusão afetiva, criminalização injusta da parentalidade e morosidade judicial constituem um conjunto de fatores altamente estressores e potencialmente desestabilizadores do ponto de vista emocional, com risco concreto de ideação suicida ou atos de retaliação impulsiva.
Após o falecimento de dois pacientes por suicídio no último ano — ambos envolvidos em disputas parentais marcadas por falsas acusações — tornou-se imperativo aprofundar a reflexão técnica sobre as estratégias de acolhimento, contenção emocional e prevenção do risco suicida nesses indivíduos.
É fundamental que profissionais da saúde mental, advogados, magistrados e familiares próximos estejam capacitados para identificar sinais precoces de ideação suicida, e compreendam a importância de uma escuta qualificada e empática diante de manifestações de sofrimento agudo.
Reflexões Éticas e Psicossociais
A despeito do sentimento de injustiça e da lentidão institucional para reestabelecimento dos vínculos parentais, ações autodestrutivas ou de retaliação contra terceiros não são compatíveis com o melhor interesse da criança. A criança precisa de um genitor emocionalmente estável, vivo, em condições de representar, de forma legal e legítima, os seus próprios direitos e sua relação parental. A ruptura radical — seja por suicídio ou por envolvimento criminal reativo — interrompe irremediavelmente essa possibilidade.
Portanto, ainda que o sofrimento subjetivo seja intenso, é necessário compreender que a preservação da vida e da sanidade psíquica do genitor é o principal recurso disponível para o enfrentamento técnico e jurídico das práticas alienadoras.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)
Segundo a OMS, a cada suicídio consumado, de 5 a 6 pessoas do núcleo relacional direto do indivíduo são afetadas de forma significativa, experimentando lutos complexos, impactos socioeconômicos e transtornos psicológicos associados. O fim do sofrimento do suicida não encerra a dor — apenas a transfere para pais, filhos, irmãos, cônjuges, amigos e colegas de convívio.
Entre os principais fatores de risco para o comportamento suicida estão:
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Episódios depressivos moderados ou graves;
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Transtornos de ansiedade e desregulação emocional;
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Separações e rupturas conjugais;
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Perda do contato com filhos;
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Rebaixamento da autoestima e da rede de apoio;
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Sentimentos de humilhação, desesperança e impotência jurídica.
Critérios Diagnósticos e Sinais de Alerta
Atenção redobrada deve ser dada quando os seguintes sintomas se mantêm por mais de duas semanas, com prejuízo significativo à vida afetiva, social ou ocupacional:
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Humor deprimido na maior parte do tempo;
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Anedonia (perda de interesse ou prazer);
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Irritabilidade, agitação ou apatia;
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Fadiga constante e perda de energia;
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Insônia ou hipersonia;
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Redução ou aumento abrupto de apetite/peso;
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Sensação de inutilidade, culpa ou fracasso;
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Déficits de atenção, memória e tomada de decisão;
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Pensamentos recorrentes de morte ou ideação suicida.
Nesses casos, a busca imediata por acompanhamento médico-psiquiátrico e psicológico é indispensável. O atendimento está disponível também na rede pública de saúde.
Cuidados no Acolhimento Familiar
É essencial que familiares e redes de apoio evitem frases ou posturas que minimizem a dor psíquica do indivíduo em sofrimento. Abaixo, exemplos de falas desaconselhadas, pois reforçam estigmas ou dificultam a adesão ao tratamento:
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“Isso é fraqueza.”
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“Também estaria deprimido no seu lugar.”
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“Você precisa apenas de força de vontade.”
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“Isso é coisa da sua cabeça.”
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“Remédios são perigosos, é melhor evitar.”
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“Depressão é frescura ou falta de fé.”
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“Quem quer se matar, se mata, não avisa.”
Todas essas manifestações reforçam o isolamento psíquico, aumentam o risco e contribuem para a rigidez cognitiva do sujeito em sofrimento.
Características Psicológicas em Crises Suicidas
De acordo com estudos clínicos, a maior parte dos indivíduos em risco suicida apresenta três características predominantes:
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Ambivalência – Conflito interno entre o desejo de morrer e o desejo de viver. O risco suicida diminui significativamente quando há escuta qualificada e aumento do desejo de viver.
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Impulsividade – A tentativa de suicídio pode ser um ato abrupto e reativo, desencadeado por eventos estressores. A intervenção imediata e a contenção da crise podem salvar vidas.
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Rigidez cognitiva (visão em túnel) – Estado mental dicotômico, em que o sujeito acredita que “não há saída” além do suicídio. Frases como “a única opção é morrer” sinalizam essa constrição mental e requerem atenção clínica urgente.
Além disso, a regra dos 4 D — depressão, desamparo, desesperança e desespero — é uma ferramenta útil para avaliação de risco suicida. A presença desses quatro sentimentos, aliados a frases de alerta como “quero morrer”, “sou um peso para todos”, “não aguento mais” ou “vocês estariam melhor sem mim”, deve ser considerada como indicativo de risco real.
Conduta Protetiva e Acolhimento Responsável
O acolhimento empático e a escuta ativa são as intervenções mais eficazes nos momentos de crise. Perguntar de forma clara e respeitosa se a pessoa pensa em se machucar ou tirar a própria vida não induz ao suicídio — ao contrário, demonstra cuidado, abre espaço para o diálogo e pode salvar vidas.
Como ajudar:
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Escolha um ambiente reservado e acolhedor;
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Dedique tempo para ouvir sem interrupções;
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Evite julgamentos, conselhos rápidos ou comparações;
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Demonstre presença, afeto e responsabilidade;
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Incentive a busca por atendimento profissional.
Encaminhamentos e Apoio
Serviços de apoio emocional e prevenção do suicídio:
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CVV – Centro de Valorização da Vida
Atendimento gratuito e sigiloso, 24 horas por dia.
Ligue 188 ou acesse: www.cvv.org.br -
Sociedade Amigos da Vida (Campinas/SP)
Tel.: (19) 3231-4111
Site: www.sociedadeamigosdavida.org.br
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