segunda-feira, 17 de abril de 2017

Depressão, desesperança, desamparo e desespero.


Risco Suicida em Genitores Vítimas de Alienação Parental e Falsas Acusações: Reflexões Técnicas e Considerações de Prevenção

A atuação clínica e pericial na seara da Psicologia Jurídica tem revelado um aumento preocupante de sofrimento psíquico intenso em genitores que enfrentam processos de alienação parental e/ou falsas imputações de abuso sexual, especialmente em contextos de litígio judicial envolvendo guarda e convivência de filhos. Situações crônicas de exclusão afetiva, criminalização injusta da parentalidade e morosidade judicial constituem um conjunto de fatores altamente estressores e potencialmente desestabilizadores do ponto de vista emocional, com risco concreto de ideação suicida ou atos de retaliação impulsiva.

Após o falecimento de dois pacientes por suicídio no último ano — ambos envolvidos em disputas parentais marcadas por falsas acusações — tornou-se imperativo aprofundar a reflexão técnica sobre as estratégias de acolhimento, contenção emocional e prevenção do risco suicida nesses indivíduos.

É fundamental que profissionais da saúde mental, advogados, magistrados e familiares próximos estejam capacitados para identificar sinais precoces de ideação suicida, e compreendam a importância de uma escuta qualificada e empática diante de manifestações de sofrimento agudo.

Reflexões Éticas e Psicossociais

A despeito do sentimento de injustiça e da lentidão institucional para reestabelecimento dos vínculos parentais, ações autodestrutivas ou de retaliação contra terceiros não são compatíveis com o melhor interesse da criança. A criança precisa de um genitor emocionalmente estável, vivo, em condições de representar, de forma legal e legítima, os seus próprios direitos e sua relação parental. A ruptura radical — seja por suicídio ou por envolvimento criminal reativo — interrompe irremediavelmente essa possibilidade.

Portanto, ainda que o sofrimento subjetivo seja intenso, é necessário compreender que a preservação da vida e da sanidade psíquica do genitor é o principal recurso disponível para o enfrentamento técnico e jurídico das práticas alienadoras.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)

Segundo a OMS, a cada suicídio consumado, de 5 a 6 pessoas do núcleo relacional direto do indivíduo são afetadas de forma significativa, experimentando lutos complexos, impactos socioeconômicos e transtornos psicológicos associados. O fim do sofrimento do suicida não encerra a dor — apenas a transfere para pais, filhos, irmãos, cônjuges, amigos e colegas de convívio.

Entre os principais fatores de risco para o comportamento suicida estão:

  • Episódios depressivos moderados ou graves;

  • Transtornos de ansiedade e desregulação emocional;

  • Separações e rupturas conjugais;

  • Perda do contato com filhos;

  • Rebaixamento da autoestima e da rede de apoio;

  • Sentimentos de humilhação, desesperança e impotência jurídica.

Critérios Diagnósticos e Sinais de Alerta

Atenção redobrada deve ser dada quando os seguintes sintomas se mantêm por mais de duas semanas, com prejuízo significativo à vida afetiva, social ou ocupacional:

  • Humor deprimido na maior parte do tempo;

  • Anedonia (perda de interesse ou prazer);

  • Irritabilidade, agitação ou apatia;

  • Fadiga constante e perda de energia;

  • Insônia ou hipersonia;

  • Redução ou aumento abrupto de apetite/peso;

  • Sensação de inutilidade, culpa ou fracasso;

  • Déficits de atenção, memória e tomada de decisão;

  • Pensamentos recorrentes de morte ou ideação suicida.

Nesses casos, a busca imediata por acompanhamento médico-psiquiátrico e psicológico é indispensável. O atendimento está disponível também na rede pública de saúde.

Cuidados no Acolhimento Familiar

É essencial que familiares e redes de apoio evitem frases ou posturas que minimizem a dor psíquica do indivíduo em sofrimento. Abaixo, exemplos de falas desaconselhadas, pois reforçam estigmas ou dificultam a adesão ao tratamento:

  • “Isso é fraqueza.”

  • “Também estaria deprimido no seu lugar.”

  • “Você precisa apenas de força de vontade.”

  • “Isso é coisa da sua cabeça.”

  • “Remédios são perigosos, é melhor evitar.”

  • “Depressão é frescura ou falta de fé.”

  • “Quem quer se matar, se mata, não avisa.”

Todas essas manifestações reforçam o isolamento psíquico, aumentam o risco e contribuem para a rigidez cognitiva do sujeito em sofrimento.

Características Psicológicas em Crises Suicidas

De acordo com estudos clínicos, a maior parte dos indivíduos em risco suicida apresenta três características predominantes:

  1. Ambivalência – Conflito interno entre o desejo de morrer e o desejo de viver. O risco suicida diminui significativamente quando há escuta qualificada e aumento do desejo de viver.

  2. Impulsividade – A tentativa de suicídio pode ser um ato abrupto e reativo, desencadeado por eventos estressores. A intervenção imediata e a contenção da crise podem salvar vidas.

  3. Rigidez cognitiva (visão em túnel) – Estado mental dicotômico, em que o sujeito acredita que “não há saída” além do suicídio. Frases como “a única opção é morrer” sinalizam essa constrição mental e requerem atenção clínica urgente.

Além disso, a regra dos 4 Ddepressão, desamparo, desesperança e desespero — é uma ferramenta útil para avaliação de risco suicida. A presença desses quatro sentimentos, aliados a frases de alerta como “quero morrer”, “sou um peso para todos”, “não aguento mais” ou “vocês estariam melhor sem mim”, deve ser considerada como indicativo de risco real.

Conduta Protetiva e Acolhimento Responsável

O acolhimento empático e a escuta ativa são as intervenções mais eficazes nos momentos de crise. Perguntar de forma clara e respeitosa se a pessoa pensa em se machucar ou tirar a própria vida não induz ao suicídio — ao contrário, demonstra cuidado, abre espaço para o diálogo e pode salvar vidas.

Como ajudar:

  • Escolha um ambiente reservado e acolhedor;

  • Dedique tempo para ouvir sem interrupções;

  • Evite julgamentos, conselhos rápidos ou comparações;

  • Demonstre presença, afeto e responsabilidade;

  • Incentive a busca por atendimento profissional.

Encaminhamentos e Apoio

Serviços de apoio emocional e prevenção do suicídio:




Fonte: WERLANG, B.G.; BOTEGA, N. J. Comportamento suicida. Porto Alegre: Artmed Editora, 2004

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