quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Pais de domingo



Erroneamente a consciência coletiva confunde guarda com o Poder Familiar, atribuindo a quem detêm a guarda o exercício uno do Poder Familiar. Nessa circunstância, o genitor que não detém a guarda — usualmente o pai — tende a não exercer os demais atributos do Poder Familiar, distanciando-se de sua prole e privando-a de importante referencial para a sua formação.

Pais e mães que convivem com o filho apenas nos finais de semana, geralmente são chamados de Pais “Mc Donald’s” ou “Sunday dads” — pais de domingo e a principal consequência do desequilíbrio do tempo de convivência pode ser observada na TOTAL ausência de desejo dos pais em colocar limites nos filhos com a desculpa: “eu só o vejo um dia ou dois por semana, ou um por quinzena, não é justo que eu dê broncas, se eu advertir meu filho ele ficará com raiva de mim.”

Ora, mas se educar é função dos pais, porque não exercer os atributos do poder parental? Pai e mãe devem instruir, dirigir, moralizar, aconselhar e aculturar o filho. Colocar limites, dar broncas, chamar atenção, faz parte da educação e cabe aos pais, sendo guardiões ou não, educar aqueles a quem deram a vida, dirigi-los, defendê-los e prepará-los para a vida e para viverem em sociedade.

Vou dar um exemplo do que aconteceu hoje de manhã quando fui comprar frutas numa quitanda perto de casa. Um homem estava descarregando um caminhãozinho baú e um garoto não parava de bater na lataria do caminhão com um pedaço de pau. O pai pegava a caixa de frutas e levava pra dentro da frutaria enquanto o filho o tempo todo dava pauladas na lateral do baú. Aquilo de certa forma me impressionou, afinal, o menino (uns 6 ou 7 anos) estava amassando a lataria do caminhão e ninguém falava nada.

Minutos depois ele entrou no estabelecimento e começou a furar as frutas com uma lasquinha de madeira e uma senhora pediu pra ele parar, porque, ninguém compraria o que ele estava estragando e que o pai teria prejuízo. Ele saiu de perto dela e foi perto de outra mulher e ficou atrapalhando ela passando na frente de modo que a senhora não podia escolher. Ela deu uma bronca: “Oh menino, pare de me aperrear. Você está me ‘estrovando’, sai pra lá.”

O pai estava presente, mas não chamava atenção do menino de jeito nenhum. O garoto chegou perto de mim e me deu uma varadinha de leve, não aguentei e perguntei:

- Quem é o pai dessa criança?

O homem atrás do balcão respondeu: - Sou eu.

Perguntei: - E, por que o senhor não diz que ele não pode fazer essas coisas. É sua função educa-lo e não nossa.

Antes que ele respondesse a esposa falou: - Dona, ele não deixa ninguém ralhar com o menino. Esse aí cresce fazendo o que quer. Eu presto pra fazer a comida, lavar roupa, passar, dar banho, passear, dar remédio, mas se vou chamar atenção do menino o pai logo diz que não sou a mãe do moleque.

O pai a interrompeu e disse: - Sou separado. Só pego ele cada 15 dias e agora, metade das férias. Não vou ficar falando ‘não’ pra ele e também não quero que minha mulher fale. Eu quero ficar junto com menino e se eu ficar dando bronca ele vai falar que sou chato e não vai mais querer vir.

A esposa retrucou: “- Pois, é, ele não ralha com o menino e então, vem os outros e ralham. Não é pior, não é mais feio? Olha, nem de longe quero ser mãe do menino. Nem de tia quero que ele me chame. Ele me chama pelo nome mesmo. Eu gosto muito dele. Eu só quero o bem pro menino. Amo meu esposo e quero ter boa convivência com menino, mas olha, está difícil. As vezes penso até que meu casamento vai desandar por conta disso.

Quando ele não quer comer na refeições e pede doces o pai dá. Se joga o suco fora e quer Coca-Cola o pai dá. Se quiser comer somente batata frita, o pai dá e eu já não acho que deva ser assim. Criança tem que comer coisas saudáveis. Até se faz birra, levanta a mão para bater no pai, arranca os óculos dele, enfia a mãos no prato e joga comida fora, o pai não fala nada e ainda briga comigo se eu falar!

Quando esse menino quer alguma coisa ele não quer saber se podemos comprar, ele se exige, se joga no chão, faz escândalo e o pai fica assim, oh, com raiva da gente que tá mandando ele educar. Minha ‘fia’, se o menino não quer sentar na cadeirinha do carro pelo pai ele pode ir no banco mesmo. E se quer tirar o cinto, o pai deixa. Enfim, eu fui criada com pai e mãe me educando. São os adultos que têm que mostrar pra criança como funciona o mundo, por isso, a criança tem responsáveis, não é?

Eu tento corrigir, mas o menino domina o pai que aceita tudo inclusive, as agressões, puxões, respostas mal dadas e birras dele. Bom, a senhora mesmo viu ele amassando a lataria e furando as frutas. Comigo o buraco é mais embaixo. Eu brigo. Quando não pode, não pode e pronto e se chamo atenção ele obedece na hora, mas só se o pai não tiver por perto. Como é que não posso educar e corrigir um menino que recebo na minha casa? Isso é um gesto de amor. Educo pro outros não educarem. Ele me ouve, chora um pouco, mas logo obedece e esquece a bronca. Ele é um menino fácil de lidar, mas o pai está estragando ele.

O pai a interrompeu e disse: “- Fico muito tempo longe dele e quando ele chega ainda tenho que “brigar”? Ela me cobra isso e eu não gosto mesmo quando ela corrige, porque ela não é a mãe. E se meu filho fala que ela brigou sou eu é quem briga com ela, porque, o filho é meu. Não quero que o menino chegue pra mãe falando que essa aqui ralhou com ele. Um dia ainda pego esse menino e sumo no mundo. Vou deixar todo mundo pra trás.”

A esposa voltou a falar: “- A senhora acredita que tudo que a ex dele faz com ele, ele faz comigo? Qualquer discussão que temos ou quando ele se sente contrariado diz que vai pegar o FILHO DELE e ir embora. Em ocasiões que ele chega em casa e eu não estou, pois sai com menino pra padaria, açougue, mercado, parquinho, ele me liga e pergunta: ONDE VOCÊ ESTÁ COM O MEU FILHO? Ele está se tornando igualzinho a ex mulher. Ele já chegou a arrumar a mala dele e do menino, só pra me fazer raiva. Ele diz que se largar de mim eu NUNCA MAIS VOU VER O MENINO.”

Ele disse: “- Não vai mesmo. O filho é meu. Ela e a família dela não têm que sair com meu filho. Não estou igual minha ex, só não quero meu filho longe de mim, só isso.”

A madrasta falou: “- Nem as unhas do menino ele deixa eu cortar, mas também, Não corta, não manda tomar banho, não leva cortar o cabelo, não manda fazer lição de casa.”

O exercício da função paterna pressupõe muito mais que a simples presença masculina na relação com a criança. Essa função se localiza no espaço de subjetivação do exercício do poder. O pai precisa se colocar no lugar daquele que interdita, daquele que coloca limites no filho, porque essa é uma das funções paternas.

“Os filhos sempre necessitam da presença dos pais. A figura masculina é fundamental como apoio e segurança, como referencial de valores que sempre cabe ao pai transmitir. Os jovens procuram no pai um modelo com o qual possam se identificar. Na ausência do pai, os jovens podem migrar para outros modelos, nem sempre recomendáveis.

Reconheçamos que o pai é quem tem condições naturais, como referência, para o discernimento necessário para que a criança se situe em relação à presença do ser masculino na família. Para o filho, em particular, o pai deve ser o modelo de masculinidade.” (Leontino Farias dos Santos, psicanalista. Artigo: A importância do pai para o desenvolvimento infantil, 25/10/13)

Pais precisam exercer autoridade, porque quem manda na relação é o adulto e não a criança. O pai deve dar limites para criança, deve ensinar a criança a se comportar. A permissividade é péssima, porque o filho não consegue internalizar as regras da sociedade em que vive.

Para Cris Poli (“Supernanny”), o erro mais recorrente dos pais é não tomar uma postura em relação à educação dos filhos. “A ausência, a falta de posicionamento e de autoridade são características de uma carência muito forte do pai”, diz ela. Por isso, os pais não devem confundir a “culpa” que sentem com o dever de educar. Se estão carentes, porque não convivem sempre com filho, deve procurar ajuda terapêutica, mas a aculturação da criança não pode ser prejudicada por isso. Por exemplo, é inadmissível que um filho bata no pai, que afunde a lataria do carro, que ande sem cadeirão, que coma supérfluo nas principais refeições, etc., e é o adulto quem deve ensinar essas regras, MESMO QUE CONVIVA COM FILHO UMA HORA NO MÊS!

Educar filhos é uma tarefa complexa. Viver em família é uma das experiências mais prazerosas da existência. Quem almeja ver dias felizes precisa de aprender a educar e não ter medo de colocar limites.

A madrasta não é mãe biológica, mas exerce funções maternas e ela não só pode, como deve educar, claro que com amor e autoridade, nunca com autoritarismo. A casa do pai é a casa da madrasta também, por isso, cabe também à ela ensinar para criança os limites e regras daquele ambiente e da sociedade. Se o pai é permissivo, por exemplo, num local público, é sensato que a madrasta chame atenção da criança para que ela não importune os terceiros com seus maus modos.

Como diria o psiquiatra Dr. Paulo GaudêncioBom pai é aquele que cada vez mais se torna desnecessário.”, desnecessário no sentido de já ter instruído, educado e passado os valores morais, sociais, culturais e educacionais das gerações passadas e um pai que na infância e adolescência de seu filho não faz isso, certamente será necessário na vida adulta problemática da prole, que muitas vezes, pela falta de limites acaba se metendo em confusões de rua, uso de drogas, pequenos crimes, atos delinquentes, gravidez precoce, etc.

Pelo bem do seu filho ensine o caminho que ele deve andar, porque não só ele como você, mas toda a família estendida e a sociedade se beneficiarão do bom comportamento dele.  






Nenhum comentário:

Postar um comentário